10/08/2017

Rogério José Worm

Pessoa respeitada nos mais diversos cenários esportivos e educacionais da região

Rogério José Worm
Muitos e históricos legados
Pessoa respeitada nos mais diversos cenários esportivos e educacionais da região, o “Farelo” conta um pouco da sua trajetória, marcada por uma intensa dedicação ao mundo do fazer esporte
“Como toda criança da época, lá por 1966, eu já corria atrás de bolas, e de qualquer tipo.” Essa é a primeira imagem de Rogério José Worm quando o assunto é o mundo do esporte, que tanto o caracteriza. Hoje, aos 59 anos, “Farelo”, como é carinhosamente conhecido desde que nasceu, é cidadão-referência de gramados, quadras, salas de aula e bastidores do esporte e da educação no Vale do Taquari. E o legado, deixado em muitos e produtivos focos, segue fazendo acontecer e servindo de exemplo para muitos. Poucas vezes a imagem pejorativa de um apelido combinou tão pouco com a trajetória de alguém.
O “farelo de gente”, como disse um padrinho logo que o conheceu, continua com suas lembranças pelo campo de terra da Escola Estadual Fernandes Vieira ou a quadra concretada da Pracinha Mário Lampert. “Corria arrancando pedaços dos dedos. E não reclamava”, garante. “Era futebol todos os dias, e uma recheada oportunidade para brincar de tudo, o que muitas crianças de hoje não têm”, atesta ele, que seguiu correndo e vivendo por mais de meio século pelos mais diversos cenários esportivos da região. Casado há 36 anos com Nara Janete Worm, é pai de Luís Felipe Worm e de Rafaela Worm Algayer; avô de Maria Luíza e, na expectativa pela chegada de outro neto, Miguel, também filho de Luís Felipe, o “Farelinho”. E lidar com crianças sempre foi parte de uma rotina de Worm nas escolinhas esportivas, escolas educacionais e mesmo na Apae, onde trabalha há mais de uma década e tem como uma das suas realizações diárias.
Ainda quando se remete à infância, Farelo destaca. “Tínhamos um time de futsal muito bom. Se chamava Cacapi, e isso porque tinha meninos de Cantão, Canal e Piraí”, afirma, ao citar, entre outros, Toquinho, Nanico, Béio e Cacaio, apelidos de alguns amigos também ligados ao esporte. Ele é enfático ao afirmar o que mudou nesses anos todos. “Não tínhamos celular, notebook, essas coisas de hoje que, ora ajudam, ora atrapalham, principalmente as crianças e os mais jovens.” E atesta isso com autoridade. “Vemos cada vez mais nossas crianças, jovens, distantes dos gramados e das quadras reais. Tudo muito virtual e pouco saudável. Olha o absurdo da reformulação do currículo educacional, que desobriga as aulas de Educação Física. Não vai demorar muito para nossas crianças terem ainda mais problemas de saúde.”
O futebol
A partir dos 11 anos, passou a dar os primeiros passes num time de futebol mais organizado, que, ao menos naquele momento, contava com orientação de um treinador: o E.C. São José, de Joaquim Silveira - por anos massagista do Lajeadense. Depois, passou pelo Corinthians de Carneiros antes de integrar o elenco juvenil do próprio Alviazul, por volta de 1972. Com boa memória, Worm relembra. “Tínhamos uma grande equipe. Vários atletas do nosso grupo se tornaram profissionais, como foi o caso dos goleiros Júlio Xavier e Foguinho. Os nossos treinadores eram Cabo Eugênio e José Kreutz.” O compromisso com os gramados foi prejudicado pelo compromisso com a nação, como explica: “Fui para o quartel”.
Volta para casa
Na volta do Exército para Lajeado, veio o convite para trabalhar na Olvebra. “Grande empresa da época, e de uma época em que a disputa dos Jogos do Sesi era intensa e valorizada. Ali encontrei gente conhecida do meio do futebol, profissional e amador, como Jacy Pretto, Enio Coimbra, Milinha, Jair Baixer e outros grandes nomes”, afirma Farelo, que revela: “Muitas pessoas comentam, ainda hoje, que nossa equipe era muita boa, mas que havíamos sido contratados para jogar. Respondi sempre que sim, fomos contratados, mas para trabalhar na empresa. O diferencial é que, ao menos duas vezes por semana, treinávamos após um dia duro de trabalho.” Com aquele time conquistou dois títulos estaduais de futebol de campo, derrotando equipes fortes de empresas tradicionais, como Marcopolo de Caxias do Sul, Souza Cruz de Santa Cruz do Sul, CRT de Porto Alegre, entre outras, estas sim com alguns atletas contratados, inclusive com passagem pela dupla Gre-Nal.
Futebol amador
A saída da empresa, que passou por problemas financeiros, obrigou Farelo a buscar novos rumos profissionais, mas o dos gramados, como o do futebol amador da região, seguiu sendo uma constante na sua rotina. “Não há como lembrar por todos os times em que joguei. Mas defendi Brasil de Marques de Souza; Olarias, Americano, São Bento, Nacional, São Cristóvão e Conservas, estes todos de Lajeado; Brasil da Linha São José de Estrela; Forquetense de Arroio do Meio; Botafogo e Sampaio de Venâncio Aires; Rui Barbosa de Colinas; e Renner de Montenegro”, relembra. “Também vesti muitas camisetas do minifutebol. No CTC, Greminho, Tocafogo, Alternativa, Sspumol e Coroas. No Sete, a do Cosmos, do Atlanta AB Ovo”, diz sorrindo. “Conquistei muitas vitórias, medalhas nesses campos todos, mas sempre com a ajuda de muitos amigos, companheiros e apoiadores.”
Vida pública
Em 1983, apoiado pela esposa, ingressou na Fisc, hoje Unisc, onde, em 1986, se formou em Educação Física. Era um dos documentos necessários para a conquista do passaporte à vida pública. Vieram numa sequência a criação da escolinha de futebol do Clube Sete de Setembro, as aulas - de futsal e vôlei - no Clube Atlético Ubirajá, o “Bira”, e como professor nas escolas municipais Nova Viena, Guido Lermen e Oscar Koefender. “Também ingressei na Prefeitura de Lajeado na área de Educação Física, trabalhando com os professores Vallari e Andréa Haetinger. Promovíamos eventos esportivos em quase todo o município, numa época em que Lajeado era bem maior e mais ‘distante’, pois era formada por diversas dessas cidades hoje emancipadas.” E completa. “Nós fazíamos o que era possível. Lembro dos Jogos 4S, para jovens do meio rural, com as mais diversas modalidades. No Esporte para Todos (EPT) pegávamos uma Kombi, enchíamos com o material esportivo e íamos até as localidades, onde reuníamos escolas próximas e promovíamos jogos de integração. Era uma festa para a gurizada.” Lembra de uma frase que um secretário municipal lhe disse, certa vez: “Vocês estão trabalhando demais, não precisam fazer tanto”.
Inovações duradouras
O senso esportivo não cessou por aí. Assim como no interior, a vida esportiva na cidade era intensa, muito também por inovações nas quais Farelo teve participação direta, com a contribuição de amigos como Germano Togni, Kiko Sulzbach e a própria Nara. “Eram muitos os eventos. Interfirmas de futsal, o hoje tradicional Campeonato Piá de Futsal, o não menos tradicional Cafusal. Também Troféu Lajeado de vôlei, de natação, de canastra, de ciclismo, atletismo, assim como o Passeio Ciclístico de Natal e a Rústica de Natal. Também os Jogos Escolares de Lajeado; da Uambla, com a participação de 17 bairros; o Seminário Internacional de Educação Física e as Olimpíadas Regionais da Apae”, finaliza, quase sem fôlego. Mas fôlego para ainda muito mais garante existir.
O futebol ontem, hoje e amanhã
Farelo, que tem a pesca e passeio a cavalo com os amigos como hobby, descobriu o padel como um dos esportes prediletos de hoje. Mas é saudosista da época em que corria pelos gramados. De uma maneira geral, ele vê com preocupação os rumos que o esporte, na sua grande maioria, está tomando. “Olha o caso do futebol amador. Hoje, o vejo com a maior tristeza. E só calculo projeções ainda piores para um futuro próximo. Há 20, 30 anos, muitos jogos se decidiam no grito, na porrada, e, quando em caso de perda, poucas eram as vezes que não colocavam a culpa em árbitros e outros. Pois 20, 30 anos depois, o que mudou?”, questiona. “Pouco evoluímos nesses anos todos. Clubes tradicionais, que antigamente montavam grandes times e que valorizavam os atletas das suas localidades, hoje, já nem mais participam, pois não têm mais condições de saldar todos os custos. Virou competição financeira. Hoje, até nos aspirantes temos jogadores cobrando, e muito, para jogar”, observa.
Ele também atuou por dez anos como árbitro e, em 1993, participou da criação da Sociedade Lajeadense de Árbitros (Solar), hoje comandada pelo filho Farelinho e com mais de 70 filiados nas mais diversas modalidades. Com prestígio analisa o fato de as arbitragens vez e outra serem criticadas. “Isso ocorre também no futebol profissional. Lembra do caso do árbitro da Fifa Sandro Meira Ricci, no último Fla-Flu? Falta, sim, um melhor preparo por parte de árbitros e respeito de atletas, torcedores e dirigentes. Muitas vezes, as coisas até começam bem, mas assim que as disputas afunilam é normal que a falta de preparo pese, e as coisas estourem no lado mais fraco, no caso, a arbitragem. Precisamos, sim, ir na direção da profissionalização também na questão apito. Há muito tempo se fala nisso, mas não é fácil”, avalia.
Trabalho especial; desafios e realizações diárias
Não é no campo esportivo, mas, sim, educacional, uma das maiores alegrias de Worm. Há 12 anos, cedido pela prefeitura, ingressou na Apae de Lajeado, onde segue até hoje. “Agradeço todos os dias por Deus tê-los colocado no meu caminho. A humildade e a simplicidade deles são contagiantes”, garante. “É muito gratificante trabalhar com pessoas com deficiência. Os desafios e as aprendizagens são constantes, e isso também me motiva a seguir com meu trabalho. Só quem convive com pessoas especiais dá valor também especial a coisas que, muitas vezes, são desprezadas”, ensina, sem antes afirmar. “As necessidades são grandes, e, para nós da área, nesse trabalho, exige-se muita paciência e afetividade. É necessário e nosso dever nos empenharmos para darmos a essas crianças, jovens e adultos uma melhor qualidade de vida, mesmo que os resultados do seu esforço demorem um pouco para aparecer.”
Fonte texto: Rodrigo Angeli

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