09/08/2017

Salva-vidas

Preparados para salvar vidas

Dedicação ao esporte
Preparados para salvar vidas
Para cumprir uma das missões de sua profissão como militares de salvar vidas nas águas, os policiais treinam o ano todo no rio e nas piscinas, além de praticar outras atividades físicas
Além de ser bombeiros e policiais militares que auxiliam a combater e a prevenir a criminalidade nas cidades do Vale do Taquari, alguns, no verão, são salva-vidas na Operação Golfinho. Eles são preparados para evitar afogamentos e, assim, preservar a vida de quem se vê envolvido em uma situação crítica no mar, rio ou piscina. Para isso, precisam treinar muito.
O preparo físico para o ano seguinte começa assim que termina a operação em março. A maioria enfrenta o frio do inverno ou o calor exaustivo do verão para nadar, correr ou pedalar. Todo esporte é válido em busca da resistência física e psicológica aos salvadores. Antes mesmo de serem efetivados como salvadores das águas, cada um deles passa, todos os anos, por cursos e provações. É preciso que tenham condições reais de lidar com os riscos. Conheça um pouco de quatro salva-vidas da região.
Salva-vidas Toillier
Maiquel Rodrigo Toillier, 27 anos, irá pelo segundo ano para a Operação Golfinho. “Sou salva-vidas porque faço parte da Segurança Pública, sempre almejando o bem-estar da população independentemente de onde atuo, se é no policiamento ostensivo ou no mar.”
Ele decidiu ser salva-vidas por ter prática em natação, gostar do esporte e conseguir conciliar as duas coisas: esporte com a segurança da população em época de veraneio. Para conseguir um bom desempenho, treina o ano todo. Frequenta piscinas térmicas no rigor do inverno e depois treinar em águas geladas. “Acho muito importante me preparar durante o ano para chegar bem condicionado fisicamente. Caso haja a eventualidade de uma pessoa estar se afogando, eu sei que terei condições de efetuar o salvamento com êxito, porque a vida dela, muitas vezes, pode estar em minhas mãos, em que, possivelmente, serei a única opção que a vítima tem para sair da água com vida.”
Além de nadar, Maiquel corre. Segundo ele, nadar em água fria não é fácil, precisa ter muita força de vontade. Seu treino é variado, pequenas distâncias, como 200 metros, mas com explosão, e também treino de longas distâncias, que são a partir de dois mil metros de natação. Maiquel atua na Praia de Arroio do Sal.
Salva-vidas Alisson
Alisson da Silva Rodrigues, 29 anos, atua na área há três anos. “Sou salva-vidas por vários motivos, mas o principal é por ser uma profissão gratificante no sentido emocional, no qual aquele aperto de mão, seguido de um ‘muito obrigado’ de quem precisou mesmo de você me faz sentir realizado com essa profissão.”
Alisson começa o treinamento logo depois de voltar de uma operação e não falha no inverno. Para amenizar o frio, opta pelas águas de piscinas térmicas, mas assim que começa a primavera, faça frio ou calor, começa o treinamento no Rio Taquari. Concilia ainda com academia e corridas. Segundo ele, a preparação sempre é importante, independentemente do que for fazer. E para essa profissão, diz que é ainda mais importante, porque ela exige um preparo de muita resistência, baseado em força e resistência para cumprir sua missão com êxito. “Há uma meta que é dita entre os salva-vidas que treinam: temos que chegar ao treinamento sobrando. Pois não é no treinamento de 20 dias que irá se preparar fisicamente, e, sim tecnicamente, mas para cumprir esse treinamento técnico é preciso estar fisicamente em forma.”
Alisson conta que nadar em águas frias é horrível, por isso, é necessário muito preparo. “A água gelada te fecha os pulmões, fazendo a respiração ficar prejudicada. Porém, aos poucos, seu corpo vai se adaptando. É na água gelada que a verdadeira preparação acontece, pois a sua mente pede para desistir, que seu corpo não vai aguentar, mas isso é passageiro.” Ele nada, normalmente, 1,5 mil a dois mil metros.
Salva-vidas Juliano
Juliano Augusto da Silva, 28 anos, está na Operação há cinco anos. “No primeiro ano, entrei pensando na remuneração extra, porém, com o passar do tempo, durante a Operação Golfinho, se percebe que é uma profissão gratificante, em que as pessoas o reconhecem e parabenizam pelos serviços prestados, pois só pela remuneração ninguém permanece, já que o desgaste físico e mental é muito grande durante o serviço nas guaritas.”
Durante o ano, Juliano tenta se manter condicionado fisicamente, de abril a setembro, com corridas periódicas de cinco a dez quilômetros, e do final de setembro até a convocação para o curso de atualização e salvamento, que ocorre no final de novembro, intensifica o preparo, correndo, diariamente, seis quilômetros e nadando de 1,5 a dois quilômetros por dia nas águas do Rio Taquari.
Ele diz que é extremamente importante se preparar durante o ano, pois o tempo oferecido para o curso de atualização em salvamento não é o suficiente para condicionar os salva-vidas. “É de suma importância chegar bem preparado para a Operação Golfinho, pois os primeiros dias são os de maior movimento, sendo os feriados de Natal e Ano-Novo momentos em ocorrem os grande aglomerados de veranistas, exigindo muita atenção e condicionamento físico dos salva-vidas, pois nosso único equipamento é um apito e um rescue (boia), além da boa vontade e preparação pessoal.”
Juliano costuma praticar com maior frequência a corrida, natação e canoagem como treino. E ressalta que nadar nas águas frias não é agradável, e acrescenta que, por vezes, ao molhar os pés já sente vontade de ir embora: “Em setembro, quando começamos a nos preparar, a água ainda é muito gelada, dificultando a respiração, sendo necessário usarmos uma malha ou neoprene para aguentar o frio. Ao chegarmos ao litoral para o curso não é diferente, pois nadamos em lagos e no mar, os quais, além de estarem frios, é preciso superar a baixa visibilidade e a insalubridade da água, porém, a força de vontade e a preparação pessoal falam mais alto.”
De setembro a novembro, costuma nadar de 1,5 a dois quilômetros por dia. No curso, vai de dois a três quilômetros/dia. Ele atua na praia de Capão da Canoa.
Salva-vidas Bruno
Bruno Dias Neves, 30 anos, é salva-vidas há cinco anos. “Sou salva-vidas por mais de um motivo. Acho a missão de resgatar vidas das águas uma dádiva. Na hora do salvamento, somos a última esperança de quem está lá, e a satisfação de trazer alguém de volta para sua família é indescritível, unindo a tudo isso o cuidado que temos com nossa saúde, pois procuramos sempre estar com preparo físico em dia, o que só nos traz benefícios.”
O treinamento de Bruno dura o ano todo, com natação, corrida e uma alimentação saudável com vitaminas. Destaca que o resgate em águas de mar é extremamente difícil e cansativo, e estar bem condicionado é essencial para a atividade de salva-vidas, por isso, a necessidade de treinar durante o ano inteiro. O esporte predileto dele é natação, mas, para aumentar suas habilidades esportivas e resistência, pratica corrida, futebol e vôlei. “Treinar nas piores situações possíveis nos diferencia dos nadadores de piscina. A água gelada nos leva a um cenário mais próximo do que vamos encontrar no litoral, pois as águas do litoral gaúcho costumam ser geladas. Durante os dias de treino de natação, a distância percorrida gira entre 1,5 mil e 2,5 mil metros.
A profissão
Em muitas cidades litorâneas há salva-vidas em praias mais frequentadas e/ou perigosas para pronto atendimento aos banhistas ou para avisar dos riscos provocados por animais como águas-vivas ou tubarões. A vigência do serviço pode ser permanente ou restringida à época própria para banhos.
A formação de um salva-vidas deve ser completa: nadar muito bem, conhecimento das técnicas de respiração e massagem cardíaca, oceanografia, cuidados com o banhista e agilidade nas ações de prevenção e salvamento, em que segundos tornam-se preciosos.
Operação Golfinho 2016/2017
Os cursos para os novos salva-vidas militares da Operação Golfinho já estão em andamento. Todos os anos, os mais de dois mil salva-vidas gaúchos convocados no Estado são divididos em duas turmas e participam durante 20 dias de treinamentos preparatórios para a ação. A primeira chamada já tem data marcada para 15 de novembro. A lista com o nome dos militares será anunciada próximo da data.
Dicas de treinamento para o curso de salva-vidas
Total: dois mil metros
*Piscina de 25 metros.
- Aquecimento: 500 metros (100 metros craw, 50 metros braço (com palmar), 50 metros perna (com nadadeira), 100 metros peito, 100 metros braço (com palmar), 100 metros perna (com nadadeira)
P.S.: Sem intervalo de descanso no aquecimento, após término do aquecimento, um minuto de descanso. Caso não possua palmar e nadadeira, executar sem o uso. Aproveitar para observar o movimento e corrigi-lo caso necessário.
- Desenvolvimento: total mil metros (4 x 100 metros - 2’15’’, descanso de 1’, 6 x 50 metros - 1’15’, descanso de 1’, 8 x 25 mts - 50’’, descanso de 1’, 100 metros craw solto)
P.S.: Nos tiros de 100 metros, a cada dois minutos e 15 segundos, será feita mais uma largada, ou seja, se você chegar à borda com dois minutos, irá descansar 15 segundos. ATENÇÃO: todos os tiros são para manter uma regularidade entre eles. Se fez o 1º para 1’50’’, o último deverá ser, no máximo, para 2’.
- Relaxamento: total 500 metros (dez metros mergulhando, 15 metros recupera no craw
100 metros craw; 15 metros mergulhando, dez metros recupera no craw 100 metros peito; 20 metros mergulhando, cinco metros recupera no craw; 100 metros costa; 25 metros mergulhando; 100 metros craw.)
OBS.: se você conseguir fazer tudo certinho, está apto a tentar o curso.
Tatiane: a primeira militar mulher salva-vidas do Vale do Taquari
Este ano, será o segundo ano que a jovem parte para o litoral com a missão de salvar vidas
Vestir a camiseta amarela e o cinto vermelho e ficar sobre uma guarita observando as pessoas foram um sonho de dois anos para Tatiane Purper, de Lajeado. Sonho realizado no verão passado, quando se formou como salva-vidas - a primeira do Vale do Taquari.
A partir do dia 15 de novembro, ela integrará o efetivo do litoral gaúcho e será uma das dez mulheres do Estado a levar beleza e charme para a beira do mar.
As salva-vidas femininas da Operação Golfinho representam 9,7% do total desses profissionais todos os anos, e, em 2016, é o maior contingente desde que a ação começou a admitir mulheres, em 2001.
Elas atuam nas praias de Torres a Tavares e enfrentam os perigos da profissão com a mesma coragem dos seus colegas do sexo masculino. Uma pequena amostra de que coragem independe do gênero.
No entanto, mesmo com esses exemplos de garra, são poucas as mulheres que integram o grupo de salva-vidas gaúcho, justamente pela dificuldade de ingressar na carreira e se formar no curso. O treinamento é igual para homens e mulheres, visto que o salvamento e as atitudes à beira-mar precisam ser semelhantes.
Isso exige muito das alunas, tanto do físico quanto do psicológico. “Temos que nos preparar muito mais fisicamente para superar tudo. Os desafios psicológicos foram diários, mas o sonho de conquistar essa profissão foi maior”, diz Tatiane.
De acordo com ela, o curso para salva-vidas exige bastante comprometimento e força de vontade. Eles aprendem técnicas para salvamento, a lidar com os medos e a trabalhar com a prevenção, alertando os banhistas dos perigos no mar. Foram aulas específicas teóricas e práticas.
Como começou
Tatiane é policial militar há quatro anos, em Lajeado, e se formou em Direito pela Univates, em agosto de 2015. Desde que entrou para a carreira militar, se preparou para integrar o grupo de salva-vidas.
Desde maio de 2013, começou a nadar três vezes por semana, fazia academia com frequência e corridas na rua. No primeiro ano de prova, foi chamada apenas para a prova da piscina. No segundo ano, não conseguiu se inscrever em razão de outras adversidades, mas, em 2015, teve como metas principais o curso e a aprovação.
Os treinos e sua rotina
Sua rotina na semana era conciliar o trabalho na Brigada Militar com os estudos de uma formanda e os treinos físicos: duas vezes por semana, jogos de futebol, duas vezes treino de luta kickboxing, três vezes por semana natação e cinco vezes academia. “Treino e rotina puxados, mas para alcançar meus objetivos.” De segunda a segunda, ela praticava atividade física.
Brincadeira de infância
Tatiane aprendeu a nadar bem cedo. Ela passava o verão todo na casa da prima, e a brincadeira de infância era de ser a salva-vidas. “Sempre salvar, nunca gostava de ser a vítima”, brinca.
Fonte texto: Carine Krüger

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