09/08/2017

Jacy Pretto

“Caí no mundo do rádio, adorei e fiquei”

Jacy Pretto
“Caí no mundo do rádio, adorei e fiquei”
Famoso personagem dos microfones esportivos da região, Jacy Pretto fala um pouco da sua trajetória pelos gramados e estúdios
Uma “queda” de sucesso e de sorte, principalmente para os ouvintes é o que dirão os fãs de Jacy Pretto ao verem sua resposta para a pergunta de como ele foi parar com microfones na beira de gramados e fones nas cabines de imprensa e estúdios das rádios após largar os campos profissionais. “Na verdade, eu caí no mundo do rádio”, explica ele ao lembrar quando, em meados da década de 1970, mesmo lesionado, resolveu acompanhar sua equipe numa competição entre empresas e indústrias. Sem poder jogar, foi convidado a comentar os jogos, na época, de grande reputação no meio esportivo. Aceitou e não largou mais os microfones, para felicidade dos ouvintes. Hoje, já são quase 40 anos na profissão e na Rádio Independente, incalculáveis horas levando informações e opiniões.
Jacy nasceu em 6 de julho 1951, na localidade de Pinheirinhos, em Canudos do Vale, na época município de Lajeado. Casado com Tereza de Jesus Darde Pretto, tem um filho, Henrique Pretto (36); e dois netos, Dante (5) e Helena (1). Para o comunicador, família tem uma importância fundamental na opinião da maioria das pessoas. “É o fator mais importante que se tem, a base para tudo. Lembro o meu começo, de muitas dificuldades, mas que a família ‘jogava junto’, abria mão de muitas coisas ou participava também para podermos jogar ou trabalhar, até mesmo na cobertura de eventos sociais, dando uma sustentação extra para que a gente, com mais tranquilidade, pudesse exercer a profissão”, relembra.
Pelos gramados
Com 15 anos, Jacy assinou contrato profissional com o Lajeadense e passou a integrar as categorias de base do clube. “Na época, era só uma categoria de base. E aí nós fazíamos todas as preliminares, o que não existe mais hoje, em muitos clubes. Hoje, as categorias jogam em outros dias, quase, geralmente, sem absolutamente ninguém para ver, com exceção de alguns familiares. E, quando vão jogar diante de um público maior, tremem as pernas porque têm mais gente, mas não estão acostumados a tanta pressão.” A passagem pelo quartel, em 1970, atrapalhou um pouco sua trajetória pelos gramados, mas não a interrompeu. De 1971 a 1973, Jacy seguiu pelo Avenida, em Santa Cruz do Sul, e depois teve uma breve passagem pelo Juventus, de Rio do Sul-SC. Na volta a Lajeado, atuou no São José de Lajeado, antes de sua fusão, e no Estrela FC. “Naquela época, muitas vezes, faltava salário no fim do mês; os bicos já não davam mais conta; os pais também não tinham como ajudar mais. Surgiu aquela inquietação se era isso mesmo que eu queria e percebi que o futebol não era um negócio que me servia mais”, explica.
Transição
Em 1975 e 1976, Jacy, já empregado na Olvebra, passou a disputar o Interfirmas, campeonatos amadores e partidas de futsal. “Mas num desses campeonatos, eu machuquei o joelho. Ainda assim, mesmo sem poder jogar, segui acompanhando o time da empresa. E a Rádio Independente fazia a cobertura dos jogos. Foi então que se apostou na criação de uma função que não existia na época, que era o de analista de arbitragem”, conta. “Como havia feito curso de arbitragem de futsal, me convidaram. Como para mim não mudava nada estar sentado no banco de reservas ou na cabine, eu aceitei. E gostei.” A atuação com Rádio Independente se tornou mais intensa e logo definitiva, hoje com quase quatro décadas de ligação.
“Depois, trabalhei como repórter esportivo. Tenho uma saudade imensa do campo. Hoje, estou na cabine. Demorei muito para me adaptar a essa distância. Lá embaixo, às vezes, mesmo com mais dificuldades, até mesmo de visão de ângulo dos lances, parecia que eu vivia mais o jogo, parecia estar dentro das quatro linhas”, lembra. “E sempre que acabava uma transmissão, dizia, ‘eu, Jacy Pretto, na companhia do narrador tal, agradeço pela sintonia e pelo carinho de sempre’.” E a Encontro com o Esporte, hoje na companhia de Jacy Pretto, agradece pela leitura de sempre.
Qual a principal mudança daquela época para o rádio de hoje?
Ele ficou mais prático de trabalhar. Essa tecnologia de hoje oferece mais condições. Antigamente, quando o repórter tinha que fazer a transmissão de um evento, no porta-malas do seu carro, ele tinha que levar praticamente 50 quilos de equipamentos. Às vezes, fazer um boletim de um telefone emprestado na casa de um desconhecido ou fazer de um orelhão. Hoje, um celular resolve parte de muitos problemas, e outras tecnologias completam as necessidades. Contudo, eu acho que o rádio não perdeu a sua essência. A pessoa que ouve rádio no carro ouve rádio. É a mesma de antigamente, a mesma que ouvirá amanhã. Se ela tem o costume de ouvir rádio, vai fazer quando no carro, também em casa e no trabalho, se possível. Justamente porque o rádio ainda tem uma dinâmica muito grande de informar as pessoas sobre o que está ocorrendo, principalmente pela vantagem de poder informar o fato no momento que ele está acontecendo e, muitas vezes, do local, e isso é uma questão fundamental.
Muito se fala da renovação das fontes de comunicação, como já ocorre com muitos meios com a chegada da internet. Mas, então, você acredita que o rádio ainda tem uma vida longa?
Eu sei que o motorista ou a pessoa, quando no carro ou em casa, hoje, até já pode estar ouvindo um CD, vendo um DVD ou TV, mas, mesmo que ele não esteja sempre ligado ao rádio, ele sabe que esse meio traz a vantagem de ser uma fonte instantânea. Que o rádio pode, em meio a outras atrações, e são cada vez mais diversas e melhores, informar aos ouvintes o que está acontecendo no trânsito ou em meio à cidade, evento. O ouvinte que está no carro ou em casa sabe que ele não precisa estacionar ou parar de fazer suas coisas para ter acesso a essas informações. Na verdade, eu acho que nenhum meio está se extinguindo totalmente. O que se precisa, mas nem sempre ocorre, é que quem tem o poder de decisão nos meios de comunicação, seja rádio, seja jornal, seja TV, enfim, precisa entender que a comunicação ainda é extremamente importante, mas que ela precisa ser feita por profissionais de qualidade, porque, senão, as coisas não acontecerão como o desejado.
Você sempre foi muito ligado ao esporte. Como você avalia hoje o momento do Lajeadense? Muito se diz que o Vale do Taquari precisaria de mais um clube profissional para o próprio Lajeadense e o futebol na região se fortalecerem. Mas há espaço para isso?
Se nós formos analisar o Vale do Taquari como um todo há espaço, sim. Mas vamos lembrar que, hoje, a televisão passa jogos quase 24 horas por dia, de todas as partes e recantos do mundo. São competições atrativas, como a Liga dos Campeões e outras locais. Esporte é o que não falta na TV, e há ainda a questão da segurança, preço. O torcedor está perdendo o gosto pela arquibancada, de sair do conforto da sua casa para ir ao estádio, ao ginásio. Outro detalhe: montar uma equipe profissional para jogar que tipo de competição? Se tudo correr bem, como no caso do Campeonato Gaúcho, por apenas 45 dias. O Gauchão é um campeonato em extinção, que assim como a maioria está sobrevivendo de teimosia, talvez com exceção do Carioca e Paulista. Mas aqui, em Minas Gerais, no Paraná, entre outros estados com dois clubes de ponta apenas, é complicado. E se o clube menor surpreender e conseguir algo mais produtivo no ano, na temporada seguinte, ele terá oxigênio financeiro para se sustentar financeiramente? Como é que você vai convidar alguém para ser sócio de um clube como Lajeadense, 365 dias por ano, mas ter apenas 45 de futebol basicamente atrativos, sendo que a metade desse tempo é com jogos fora de casa? Como é que você vai convencer o empresário a colocar placa no estádio se no Gauchão você tem apenas sete jogos em casa com apelo à publicidade? Por isso, se formos analisar esse contexto todo, eu acho que o Vale não tem espaço para mais um clube profissional. Não porque as competições que se tem para se disputar no futebol profissional não dão a sustentação suficiente. Temos que agradecer e dar graças a Deus e fazer muita força para que a gente mantenha pelo menos uma equipe. Mas não há também por que deixarmos de sonhar ou projetarmos que um dia isso seja possível outra vez.
Qual seria a solução para melhorar esse contexto?
O futebol gaúcho precisa esquecer a dupla Gre-Nal. Esses clubes do interior necessitam criar uma competição focada no interior. Se a dupla Gre-Nal quiser participar, que seja com a moçada, sem atletas do grupo profissional. Veja a situação: a Libertadores aumentou o número de vagas e vai durar muito mais tempo; fundaram a Primeira Liga. Então, qual é o time que Grêmio ou Inter, que muitas vezes são o grande atrativo para os torcedores do interior, irão mandar para essas cidades na disputa do Gauchão? E isso para serem acompanhados por públicos de cinco mil, seis mil torcedores na maioria dos estádios, o que, convenhamos, não é muita coisa. Sem contar que, para o torcedor do interior ir até a capital assistir a um jogo da Libertadores, do Brasileiro, enfim, ficou muito mais fácil e acessível. Isso em bem mais oportunidades, e ainda pode-se levar a família para passear.
Fala-se muito na separação da Região Sul do Brasil do resto do país. Você acredita que isso seria bom para os clubes da região, sendo que poderiam se organizar de forma mais localizada, pleitear direitos na Conmebol?
Lembro bem quando criaram a Lei Pelé. Eu disse que ela era para poucos, que facilitaria apenas para clubes com estrutura, jogadores com qualidade, mas o resto é que iria pagar a conta. Eu acho que para a dupla Gre-Nal seria um caminho desastroso, um tiro no pé. Não vejo uma condição de se fazer uma competição envolvendo os times do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul de forma muito atrativa. Isso basicamente já temos na Primeira Liga, e os estádios estão lotados? Não, ao menos por enquanto. O estádio aqui no Sul ainda lota quando o time está na ponta de cima ou de baixo da tabela. Caso contrário, o torcedor mesmo, sendo sócio, não vai ao estádio com muita frequência, tanto que a média fica entre 12 mil e 17 mil torcedores.
E como você avalia o futebol amador hoje, principalmente aqui no Vale do Taquari?
O futebol amador segue aquela trajetória de sempre. Ele perdeu um pouco aquela questão da mídia, principalmente por parte do rádio, que dava uma cobertura bem mais ampla e direta. Mas eu acho que não são os jogadores amadores que não querem jogar o amador. Na verdade, como em muitas coisas, o amador sente a falta de lideranças para comandar. E ninguém está sendo preparado. Muito porque quem aceita ser presidente de um clube, associação de bairro ou coisa assim tem muito serviço, não é remunerado e ainda, muitas vezes, é taxado de desonesto.
Cite um jogador inesquecível que você tenha visto jogar
Eu lembro que, em 1971, eu jogava no Avenida, e, naquela oportunidade, nós enfrentamos o Grêmio, cujo atacante era Alcindo Martha de Freitas. Para mim, foi um dos centroavantes mais completos, depois, com Valdomiro do Inter. Mas o Alcindo Bugre tinha tudo que o jogador de área precisava, coisas que hoje já não se tem mais.
Conte alguma história engraçada ou marcante desses anos de rádio.
Engraçadas sempre há, mas marcante, sim, lembro de uma partida em especial, envolvendo o Lajeadense, que jogava em Erechim contra o Ypiranga pelo acesso. O Alviazul precisava ganhar e ainda dependia de um resultado do jogo entre São José e Passo Fundo. A partida, em Erechim, terminou; o Lajeadense ganhou; e todos no campo ficaram por mais de 15 minutos escutando a Rádio Independente e torcendo pelo empate em Porto Alegre, o único placar que interessava. O empate acabou acontecendo, e o Lajeadense subiu para a divisão principal.
Cite um profissional ou amigo que seja uma referência para você.
Olha, admiro muitos amigos profissionais jovens e de mais idade, mas tenho um carinho muito grande pelo Rudimar Piccinini. Não sei se é aquele chamado ‘amor à primeira vista’. Ele trabalhava na Rádio Ibirubá. Lembro da insistência da família dele, principalmente a mãe, que morava em Roca Sales, para que a nossa rádio desse uma oportunidade para ele. Naquela época, você mandava uma fita gravada e tu escutavas. Escutei e achei que ele tinha um grande potencial. Quando ele veio, apesar de me assustar um pouco com o tamanho e a altura dele, ficou realmente comprovada a sua qualidade. Houve uma afinidade tão grande, desde o início, que hoje eu não sei se ele é meu colega de trabalho ou meu irmão, mas eu vou ficar com a segunda opção.
Diga algum lema ou segredo para ser reconhecido como você é.
Em qualquer atividade na vida, mas, principalmente, no meio de comunicação, você precisa dar o máximo de credibilidade. Ela é fundamental, porque se você não a tem, não vai conseguir fazer aquilo que um bom comunicador precisa, para receber, checar e passar a informação. O ideal é receber a informação da sua fonte, que confia em você, preservar a fonte, mas, dentro do possível, ir in loco para, quem sabe, aí sim, evidenciar e completar o fato que vai repassar aos ouvintes.

Fonte texto: Rodrigo Angeli

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