08/08/2017

Fernando Teixeira

“Vivo, como e respiro jiu-jítsu.”

Arte suave
“Vivo, como e respiro jiu-jítsu.”
Fernando Teixeira, 31 anos, largou a faculdade de Direito e se tornou um grande professor de jiu-jítsu, em Lajeado
Apesar de ainda ser faixa marrom, Fernando Teixeira, de 31 anos, é chamado com respeito de mestre por seus alunos da arte suave jiu-jítsu. Essa condição foi adquirida com muita determinação. Depois de anos na faculdade de Direito, resolveu arriscar no esporte, largou os estudos e, agora, é dono de uma academia de artes marciais em Lajeado, onde faz o que mais ama: dar aulas.
A primeira vez que vestiu um quimono, Teixeira tinha 16 anos. Parou um tempo e retornou, com vontade e dedicação, em 2005, com 21 anos. Ele conta que sempre jogou futebol, mas depois de uma grave lesão no joelho, desistiu. Após a recuperação complicada, fisioterapia e toda a desconfiança sobre voltar a praticar esportes, por indicação médica resolveu conhecer o jiu-jítsu.
Logo descobriu a diferença das artes marciais em relação a qualquer outro esporte. “Há muito respeito, amizade, união e cumplicidade. É um esporte que une as pessoas. A mesma pessoa que lhe aplica golpes é a que te ensina e, no fim do treino, te abraça e conversa sobre os assuntos do cotidiano.”
Teixeira diz que sempre foi esportista e acompanhou diversos esportes pela televisão e outras mídias, mas destaca que o jiu-jítsu lhe surpreende e completa. “É a minha vida! No dia em que nasceu minha filha, saí do treino inaugural da nossa academia para acompanhar o nascimento dela, mas foi assim minhas duas paixões juntas.”
Segundo ele, sua esposa define bem o que a arte suave representa para ele: “Vivo, como e respiro jiu-jítsu.” Ressalta que esporte no geral é algo importantíssimo, porque ajuda a formar caráter e o bom cidadão. “Contribui, também, intensamente a combater o mundo das drogas e do crime.”
Todo esse amor e comprometimento com o que faz também se devem a uma forte aliada de Teixeira, sua esposa Márcia Teixeira. “Ela é minha sócia, minha empresária, minha nutricionista, minha treinadora e está sempre comigo. Estava grávida de sete meses e me acompanhava nas competições.” Outro grande incentivador foi o mestre de Teixeira, Fernando Paradeda, de Porto Alegre.
Seus pais o apoiaram no início da carreira e, hoje, ajudam cuidando da filha mais nova. “O esporte de luta, no Brasil, não é muito apoiado, fica difícil até mesmo para a família apoiar.”
Como o atleta prioriza seus alunos e o ensino aos que gostam de competir, suas competições particulares ficam um pouco de lado, por isso, soma poucos títulos, mas, no segundo semestre de 2015, foi três vezes 3º colocado e uma vez vice-campeão gaúcho de jiu-jítsu. Além de participar de campeonatos, ele trabalha na organização dos maiores torneios da modalidade no Rio Grande do Sul.
Do Direito para o esporte
Quando começou a dar aulas, Teixeira era acadêmico de Direito. “Mas nunca me senti ou me vi como um advogado, por mais que tivesse vontade de ser um grande criminalista. Nunca me vi satisfeito em qualquer outra profissão, sabia que no futuro não seria um profissional realizado.”
Então, segundo ele, da forma menos provável, apareceu a oportunidade de dar aula do esporte que sempre foi a menina dos seus olhos. “Minha vida mudou da água para o vinho, deixei de ser um estudante insatisfeito com o curso e virei um professor realizado por trabalhar com o que mais amo, ajudando pessoas a evoluir e fazendo novas amizades.”
Ideia de abrir uma academia
Quando surgiu a oportunidade de dar aula, Teixeira estava sem emprego, e sua esposa, grávida. Um antigo colega de treinos comentou que abrira uma academia e o convidou para dar aulas de jiu-jítsu. “No primeiro treino, éramos quatro pessoas. Após dois meses, estávamos em 15.”
Passado algum tempo, sua esposa Marcia teve a ideia de seguirem um caminho diferente, arriscar e abrir a própria escola. “Analisamos todas as academias que conhecíamos, conversamos bastante sobre negócios e fomos à luta.”
Conta que procuraram muito para achar um local adequado. No dia em que fecharam o contrato de locação, sua esposa, grávida de 37 semanas, ajudou a limpar toda a sala para começarem logo os treinos. “Tivemos apoio e ajuda de muita gente. Nossos alunos foram fundamentais para a nova fase da Drill BJJ School Lajeado.”
Hoje, ministram aulas de jiu-jítsu e muay thai para 90 alunos fixos e a outros esporádicos, que fazem aulas particulares. Destes, 50 são de jiu-jítsu. Eles estão divididos em horários da manhã, tarde e noite e têm entre 5 e 50 anos.
Segundo ele, interessados nesse esporte buscam cuidar da saúde e aprender a se defender. “Mas, além disso, acabam encontrando uma nova filosofia de vida.”
Ser professor
Teixeira está uma faixa abaixo da preta, em que o professor é chamado de mestre. “Sou muito exigente em relação à graduação e a todas as normas do jiu-jítsu. Todas as minhas graduações foram realizadas dentro do tempo mínimo, fui submetido a exames e segui o caminho correto dentro da arte suave.”
Ensinar jiu-jítsu, para ele, é algo que passa do sentido “ensinar”. Diz que o professor jiu-jítsu abre portas ocultas até então, porque deixa de ser apenas um professor e vira amigo, psicólogo, orientador e irmão mais velho. “Ser professor de jiu-jítsu é uma bênção de Deus que quero passar adiante. Sonho com um projeto social para um futuro próximo.”
Para ser um bom praticante
O professor salienta que para ser um bom praticante desse esporte é preciso ter vontade de aprender. “O jiu-jítsu é para todos. Todas as pessoas podem aprender, desde que tenham vontade e respeito à arte marcial.” Segundo ele, não importa se tenha 5 ou 100 anos. “Não existe empecilho ou pré-requisito. Tenho alunos policiais, servidores do Poder Judiciário, taxistas, auxiliares de escritório, advogados, motoristas, mecânicos e de tantas outras profissões.” Para ele, um bom praticante deve gostar de aprender, ter curiosidade e entender que o aprendizado é eterno.
Recado de Teixeira
“Venha conhecer o jiu-jítsu. Venha conhecer nossa escola. Sabe por que falamos escola? Porque aqui não queremos formar só campeões do mundo, mas, sim, campeões na vida, dentro e fora do tatame. Queremos que o jiu-jítsu contribua de todas as formas com nossos alunos, seja na vida pessoal ou na profissional. O verdadeiro jiu-jítsu mostra que uma hora estamos por baixo, desacreditados, passando por um aperto imenso; depois de perseverar e acreditar, estamos por cima, com moral elevado e um sorriso no rosto. Assim como a vida real, a nossa arte suave é cheia de altos e baixos. Cabe a você escolher como sair do baixo e como manter-se no alto.”
Fonte texto: Carine Krüger

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