04/08/2017

Jean Rodrigo Both

Quando quem faz a diferença entra em campo

Quando quem faz a diferença entra em campo
Jean Rodrigo Both, 23 anos, bateu na trave e não conseguiu seguir carreira profissional de futebol, mas no amador faz a alegria dos times por onde passa
Na disputa entre a razão e a emoção, venceu a maturidade. Em 2012, Jean Rodrigo Both, 23 anos, deu adeus ao sonho de ser jogador profissional de futebol. Após uma séria lesão no púbis, ele resolveu terminar os estudos, pensar em um novo emprego e encarar o mundo da bola como um hobby e uma fonte de renda extra. Nesse momento, passou a jogar minifutebol no Clube Tiro e Caça (CTC) e a atuar nos gramados das regiões do Vale do Taquari e do Rio Pardo, nos campeonatos municipais e regionais.
Natural de Pinhalzinho, em Santa Catarina, Both já mostrava as suas habilidades com a bola em um campinho do lado de sua casa, com apenas 4 anos. Quando a família se mudou para o município de Estrela, a mãe Lucia tratou de colocar o menino, que na época estava com 8 anos, na Escolinha do Cristo Rei. “Ela sempre conta que fez isso logo, porque via que eu tinha talento e gostava de jogar.”
No Cristo Rei, Both disputou campeonatos de futsal e de areia e a Copa Piá. “Fui campeão sete vezes e artilheiro em cinco oportunidades, sendo três vezes o destaque das finais.” Com 11 anos, ingressou na Escolinha da Smel, onde voltou a fazer bonitas jogadas e a ganhar reconhecimento. “Participava de campeonatos regionais e estaduais e sempre me destacava nas partidas.” Prova disso é que tem, em seu currículo, um título no Estadual em cima do Juventude, em que a decisão foi para os pênaltis.
Também possui alguns títulos em campeonatos regionais e medalhas de goleador. “Fomos duas vezes campeões em um torneio disputado em São Paulo.” Nesse meio-tempo, Both despertou o interesse do Tricolor gaúcho, seu time de coração e por quem ele nutre um carinho todo especial, pois, na infância, era chamado de Paulo Nunes e também por admirar o futebol de Ronaldinho Gaúcho. “Com 12 anos, fui fazer teste no Grêmio, algumas vezes treinei, mas depois desisti, porque, na época, não tinha como ir toda hora para Porto Alegre.”
Em 2008, já com 16 anos, o jogador passou a integrar o grupo da Escolinha do Estrela, categoria juvenil. “Fizemos boas partidas, jogamos contra o Grêmio, inclusive, mas acabamos caindo fora.” No ano seguinte, Both foi para o juvenil do Clube Esportivo Lajeadense a convite de Nico Dall’agnol e Gilberto Gewehr. “O Beto Gewehr treinava o Estrela e, na época, levou alguns atletas para Lajeado, e o Nico me conhecia do Sete, porque o nosso time sempre jogava contra o que ele treinava.”
Com as passagens pagas, Both saía de Estrela todas as tardes para treinar no Alviazul; durante as manhãs, estudava. Com o time juvenil, o jogador disputou o Estadual, e com os colegas ganhou do Internacional, que, na época, tinha Dellatorre, Sasha, Zé Mario, Alisson, Fred, entre outros atletas que hoje são renomados; e também do Juventude. “Fomos muito bem. Teve um quadrangular em que nos classificamos na frente do Inter, mas acabamos em 4º lugar.”
Em decorrência de sua boa atuação no Estadual, Both foi convocado para integrar a Seleção Gaúcha Sub-17 a fim de jogar um torneio no Uruguai. Mas, antes disso, teve uma rápida passagem pelo Bahia, em que treinou dois meses, mas preferiu voltar para o Rio Grande do Sul. Já em solo uruguaio, ele ergueu a taça de vice-campeão no torneio, perdendo apenas para a Seleção Uruguaia. “O convite surgiu do técnico do Colorado, que era quem comandava a Seleção.”
Futebol profissional
Com 17 anos, Both integrou a equipe profissional do Lajeadense, sem mesmo ter atuado nos juniores. “Na Segundona, em 2010, subimos para a Primeira Divisão e, na Copinha, tivemos um ótimo desempenho em campo, mas perdemos a final para o Juventude.” Com 18 anos, o jogador atuou em várias partidas do Gauchão.
Já em 2011, participou da Taça BH de Futebol Júnior, em uma parceria do Alviazul com o time de Pedro Leopoldo. Both foi um dos destaques do time e do campeonato, que teve grandes nomes do futebol brasileiro despontando, como Bernard e Lucas Silva. “Durante a Taça BH, senti a lesão no púbis.”
Mesmo com dores, o jogador deu o seu melhor em campo e, com o apoio do coletivo, foi possível eliminar o São Paulo e o Flamengo. “Nas quartas, perdemos para o Atlético Paranaense.” Mesmo sem o troféu de campeão, as boas atuações lhe renderam bons resultados. “Lá recebi o convite para jogar no Cruzeiro e em alguns times do exterior, que entraram em contato com os meus empresários.”
Na época, o agente Fifa Ricardo Mello e o ex-jogador de futebol e hoje presidente do CE Lajeadense, Everton Giovanella, cuidavam do passe de Both. “Conversamos e optamos pelo Cruzeiro.” Em setembro de 2011, o jogador integrou o time júnior do time de Minas Gerais. “Lá, minha lesão se agravou e acabei não passando no exame médico.”
Com isso, Both voltou para tratar a lesão no Lajeadense. Em dezembro, retornou para o Cruzeiro, mas novamente sentiu o púbis. “Voltei de novo para Lajeado e encerrei o contrato com o Alviazul.” Com a ajuda dos empresários, que custearam o seu tratamento com o fisioterapeuta Frederico Grave, Both passou por um longo período de sofrimento por ficar longe dos gramados.
Após longos meses de tratamento, o atleta voltou a jogar e teve passagens pelo Glória de Vacaria, Inter de Santa Maria, Guarany de Camaquã - neste último, com boas atuações e vários gols. “Encerrei minha carreira no futebol profissional no Guarany de Camaquã.”
Bola nos fins de semana
Em 2013, o atleta começou a jogar futebol amador e já recebeu o título de melhor jogador do campeonato, no Municipal de Monte Alverne. No mesmo ano, atuou em Sinimbu no Regional. No ano seguinte, foi a vez de atuar em Bom Retiro do Sul e em Marques de Souza, no Municipal e no São Cristóvão pelo Campeonato Regional. “Em Bom Retiro, perdemos a final; em Marques, machuquei meu joelho, e no São Cri, fomos eliminados pelo Carneiros na semifinal.”
Ainda em 2013, Both vestiu a camisa do Sspumoll/Tombado, hoje Donos da Bola/Tombado, no Campeonato de Minifutebol do Clube Tiro e Caça (CTC). Em 2015, eles ergueram a taça de campeão do Torneio de Férias, e o jogador foi escolhido o Atleta-Revelação. Em 2015, ele passou a também disputar o Campeonato de Minifutebol do Clube Sete de Setembro, com a camisa do Tabajara/CBM.
Ainda em 2015, disputou o Municipal, com o Santo André, no qual perdeu a semifinal para o São Cristóvão, e o Regional, com o União de Carneiros, em que ficou com o vice-campeonato, perdendo nos pênaltis para o 25 de Julho, de Cruzeiro do Sul. Este ano, Both disputa três campeonatos municipais, em Monte Alverne, Boqueirão do Leão e Progresso, sendo que neste último, ele é o goleador do torneio, mas apresenta boas atuações em todos os times.
O futuro
Both diz que nos últimos anos ocorreram várias mudanças em sua vida e que os seus sonhos ganharam outra direção. “Antes, queria ser um grande atleta profissional; agora, desejo constituir uma família ao lado da minha namorada, continuar sendo uma pessoa de bem e ter saúde para jogar futebol o maior tempo possível.”
Sempre com o total apoio dos pais e das duas irmãs, que sempre fizeram questão de acompanhar os jogos e torcer na arquibancada, Both diz que cresceu muito como pessoa durante esses anos e que se pudesse voltar no tempo faria algumas coisas de forma diferente. “Poderia ter insistido um pouco mais e ter dado o devido valor em alguns momentos, mas eu não tinha o amadurecimento que a época exigia. Acredito que faltou um pouco de comprometimento e talvez sorte.”
Página virada em sua vida, Both diz que o Amador é uma renda extra que traz muitas alegrias para a sua vida, pois é nos fins de semana que faz o que mais gosta: jogar futebol. “Futebol significa motivação para seguir a vida. Com certeza, é uma das minhas maiores paixões.” O atleta diz que se sente realizado em campo e, graças ao futebol, fez amizades que levará para toda a vida. “Em qualquer lugar, jamais devemos menosprezar o adversário, pois nunca se sabe o dia de amanhã. O segredo é tratar todos de igual para igual.”
Texto: Carolina Gasparotto

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