04/08/2017

Everton Giovanella

Do estrelato à presidência do Lajeadense

Everton Giovanella: do estrelato à presidência
Após construir uma carreira como jogador de futebol e ser tratado como rei na Espanha, Everton voltou a Lajeado para honrar a promessa feita ao pai, Élio Giovanella
Dinheiro e fama, estes são dois dos principais motivos para que milhares de meninos sonhem em se tornar jogador profissional de futebol. O problema? Para conquistar o seu espaço é preciso muito mais do que desejar, é preciso ser forte todos os dias, é preciso ter disciplina todos os dias, é preciso ter força de vontade todos os dias, é preciso abrir mão de muitas coisas todos os dias e, além disso, é preciso ter talento e sorte.
Everton Giovanella, 45 anos, é prova disso. Ele nem sabia, mas sua história começava a se desenhar ainda na infância, quando tinha entre 3 e 4 anos. Podia ser aniversário, Dia da Criança, Natal ou qualquer outra data comemorativa, que o presente era sempre o mesmo: uma bola. Dono de uma coleção de “gorduchinhas”, o menino não se importava em já saber o que ganharia, pelo contrário, dava pulos de alegria e fazia questão de brincar com cada uma delas. “Fazia todo mundo jogar comigo, desde os primos até a minha irmã Silvana, que era obrigada a ser goleira (risos).”
Ainda na infância, Everton disputou os seus primeiros campeonatos e, na época, já se destacava. Ele jogava as interséries e jogos do Sesi. “Joguei durante toda a minha vida escolar, tenho várias medalhas de goleador, inclusive”, recorda. Dos 8 aos 12 anos, o menino frequentou a escolinha do Clube Tiro e Caça (CTC), em que tinha como professor Jurandy Pretto, o “Jura”. “Guardo com muito carinho cada momento desse início.”
Já com 16 anos, ele ingressou no juvenil do Clube Esportivo Lajeadense. “Ia oscilando entre o juvenil e o júnior, mas toda a minha base foi no Lajeadense.” Em 1992, quanto tinha 21 anos e já atuava no time profissional, o atleta foi para o Internacional, onde foi campeão da Copa do Brasil. Após, retornou para o Alviazul, jogou o Gauchão no começo de 1993 e, em outubro, foi para a Europa. “O primeiro time em que joguei na Europa foi o Estoril, uma porta de entrada para a minha carreira, ao qual serei eternamente grato.”
Everton recorda que, na infância, sempre jogava de lateral esquerdo, mas quando saiu do Brasil passou a atuar como volante. “Sempre trabalhei bastante dentro de campo, nunca tive preguiça de correr.”
O sonho começou na Europa
O jogador assinou um contrato de seis meses com o Estoril. Na época, o time não estava bem no campeonato, e Everton precisou dar o melhor de si dentro de campo, pois o clube vivenciava um momento bastante importante. “Consegui me destacar nos jogos e chamei a atenção do Tirsense.”
Entre os anos de 1994 e 95, o Tirsense estava subindo para a Primeira Divisão. “Foi um ano muito bom porque consegui mostrar meu trabalho e ganhar mais visibilidade.” O jogador relata que o Tirsense chegou a passar pela eliminatória para disputar a Uefa, mas, por questões financeiras, acabou não indo.
Após a passagem pelo Estoril e pelo Tirsense, foi a vez de encarar um novo desafio e assinar contrato com o Belenenses. “Fechei contrato com eles, e o nosso time teve um bom desempenho, com gols em cima do Porto, Benfica e Sport.” Tempo depois, o treinador do Belenenses foi atuar no Salamanca, na Espanha, e convidou Everton para jogar em seu novo clube.
Carreira na Espanha
Durante três anos, Everton vestiu a camisa do time espanhol Salamanca. Quando assinou seu contrato, o clube havia caído para a Segunda Divisão e queria subir para a elite. “Entre 1995 e 96, ganhei o título de melhor jogador.” Quando decidiu ir para a Espanha, o atleta começou a ter uma estabilidade financeira e, na medida em que se destacava nas partidas, ganhava cada vez mais. “Foi o momento em que comecei a planejar a minha vida inteira.”
Ao completar três anos de clube, Everton foi vendido para o Celta de Vigo. “Foi o clube onde pude conquistar muitas coisas.” Foram oito anos com a camisa do Celta, em que o atleta disputou seis vezes a Liga dos Campeões, indo até as quartas de final em uma das oportunidades; e duas vezes a Copa da Uefa, indo para as quartas de final em duas oportunidades. Também jogou a final da Copa do Rei. “Tive a sorte e a graça.”
Everton recorda que atuou contra grandes times, como Milan, Juventus, Ajax e Arsenal, além dos mais comuns, por também serem times da Espanha, como Real Madrid e Barcelona. “Tive uma proposta para jogar no Paris Saint-Germain, mas achei melhor permanecer no Celta, pois pensei na minha família e nos vínculos que tínhamos na Espanha.” Ele ressalta que se sente realizado como atleta. “Nunca tive lesões graves, apenas problemas musculares, o que também contribuiu para o sucesso na minha carreira.”
O amuleto da sorte
O ex-jogador diz que sempre trabalhou com dedicação, comprometimento e foco. “Sonhava em jogar futebol e coloquei isso como uma meta na minha vida.” Everton recorda que abdicou de muitas coisas, mas todo o seu esforço foi recompensado, pois suas atuações renderam a estabilidade financeira que possui para dar o melhor à família, que desde o difícil início esteve ao seu lado. “Tive uma influência muito forte do meu pai, além do apoio incondicional da minha esposa, fator extremamente importante para que a minha carreira desse certo.”
O atual presidente do Alviazul diz que a esposa Fabiane foi um alicerce fundamental em sua carreira. “Sou muito grato a ela, pois sempre entendeu a minha profissão, a minha ausência e deu todo o amor e carinho aos nossos filhos nesses momentos em que não pude estar presente.” Gianluca e Maria Eduarda nasceram na Espanha. “Ela (Fabiane) me dava a força que, às vezes, eu não tinha. Foi um acerto total tê-la ao meu lado.”
Por ter além da esposa, dois filhos, Everton diz que se sentia ainda mais motivado para dar o seu melhor em campo e levar o trabalho dia após dia com muita seriedade. “Todo pai quer dar o melhor aos seus filhos, e comigo nunca foi diferente. Trabalhei muito para que pudéssemos voltar um dia com condições de ter uma vida confortável.”
De volta a Lajeado
Em outubro de 2008, a família deixou a Espanha para fixar residência em Lajeado. “O nosso projeto sempre foi esse. Trabalhar forte para um dia voltar.” Em meio a tudo isso, Everton teve uma grande perda em sua vida, seu pai, Élio Giovanella, faleceu no ano de 2005 e cada vez mais ele sentia a necessidade de estar mais presente na vida da mãe e da irmã. “Estava preocupado com a questão familiar, pois meu contato com elas era sempre muito rápido.”
Com 38 anos, Everton resolveu pendurar as chuteiras e curtir mais a família, mas como tinha um compromisso com seu pai - quando Élio estava doente, o filho prometeu que trabalharia para o retorno do Alviazul -, não foi bem isso que aconteceu. “Em 2009, tive uma reunião com o Nilson (Giovanella) sobre a vontade de reabrir o Clube Esportivo Lajeadense. Entre uma conversa e outra, aceitei o desafio.”
Everton diz que, desde o início, a dobradinha dos Giovanellas deu certo. “O Nilson sempre foi um cara com visão, empreendedor, o que contribuiu de forma positiva para qualquer projeto.” O ex-jogador ficou com a parte do futebol e trouxe bons resultados para o clube. Em 2010, a equipe disputava a Segunda Divisão e conseguiu subir para a elite do Gauchão. “Construímos um estádio novo e sempre estivemos juntos. Mesmo quando o Mário (Dutra) foi presidente, nunca nos desligamos totalmente.”
Em abril de 2015, a direção do clube surpreendeu todos com o anúncio de Everton para ocupar o cargo de presidente do CE Lajeadense. “Trabalhávamos com o nome do Nilson para presidente, assim como ocorreu no início. A ideia do meu nome foi uma surpresa até mesmo para mim.”
Presidência e futuro
O presidente do Alviazul lamenta a queda do clube para a Segunda Divisão do Gauchão. “Infelizmente, este ano, deixamos a desejar, mas vou trabalhar com um único propósito: levar o Lajeadense de volta à elite.” Everton diz que o trabalho é voluntário e requer muito envolvimento, e que após o término de seu mandato, a ideia é cuidar da família, ter mais momentos de lazer com a esposa e os filhos. “Continuarei dando um suporte, mas preciso ter um tempo para eles.”
Everton diz que seguiu os passos do pai, que sempre teve um envolvimento muito forte com o Alviazul, como treinador e presidente. “Acredito que ele tenha tido uns 20 anos de clube; seu envolvimento com o esporte sempre foi bastante ativo.”
Todo o apoio que sempre recebeu de Élio, Everton repassa ao filho “Luca”, que também sonha em ser jogador profissional de futebol. “Gostaria e muito que ele jogasse, mas meu sonho é vê-lo feliz, independentemente da escolha que fizer.”
Texto: Carolina Gasparotto

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