04/08/2017

Orfeo Francisco Fauri

“A maior virtude de uma pessoa é saber perder.”

“A maior virtude de uma pessoa é saber perder.”
A frase de Orfeo Francisco Fauri, 63 anos, foi dita inúmeras vezes aos jogadores de futebol amador durante a época em que desempenhou o papel de treinador
Conduzir uma equipe, aproveitar o melhor de cada atleta, cuidar dos problemas extracampo, focar o título, traçar estratégias, ser pai, marido e amigo. Estas foram apenas algumas das atribuições de Orfeo Francisco Fauri, 63 anos, durante os anos em que dividiu o seu tempo entre as responsabilidades como empresário, treinador de futebol amador e patriarca da família.
Não foi um período fácil, mas a emoção do ex-treinador ao remexer em seu baú de recordações é prova de que todo sacrifício vale a pena. “O segredo do sucesso dentro de campo é gostar das pessoas e elas gostarem de ti, pois é assim que se conquista o respeito e se constrói uma equipe.”
Fauri diz que sempre gostou de competir, e o futebol amador foi um exercício de aprendizagem que marcou uma nova etapa da sua vida. “Cresci e aprendi muito com pessoas como o Betinho Kolling, os irmãos Heineck e os irmãos Pedralli.” O ex-técnico diz que, durante a sua carreira dentro das quatro linhas, o grande perdedor é o maior vencedor, pois ganhar é consequência de um trabalho bem executado. “A maior virtude de uma pessoa é saber perder.”
Em sua trajetória, Fauri amargou algumas derrotas, mas tem muito orgulho de dizer que nunca precisou enganar ou passar a perna em ninguém. “Quem está no meio sabe que muitas pessoas entram nos times por interesses próprios.” O ex-treinador diz que não guarda nenhuma mágoa do tempo em que trabalhou com o futebol amador, mas que aprendeu a não acreditar em certas pessoas, principalmente em dirigentes. “Sempre aceitei os trabalhos pelo aprendizado.”
Ele garante que dificilmente voltará aos gramados da região como treinador, pois, agora, reserva o seu tempo para a família e também para os negócios. Fauri é casado com Leda Regina, 61 anos. É pai de Douglas, 28 anos, e de Luciana, 25 anos.
No esporte desde cedo
O futebol passou a fazer parte da vida de Fauri ainda na infância. “Joguei bola desde criança.” Natural de Pedras Branca, em Boqueirão do Leão, o ex-treinador atuou como zagueiro e lateral em São Roque, Sete Léguas e Lajeadinho. Mais tarde, entre 13 e 15 anos, o jovem se aventurou no time Querosene, de Boqueirão do Leão. “Joguei com o Agenor, o Marino e o Jairo Gravina”, recorda.
Tempo depois, Fauri decidiu atuar no Corinthians, do Bairro Carneiros, em Lajeado. Defendeu o time ao lado dos irmãos Jacy e Jurandy Pretto. “Jogava no segundinho e, quando faltava jogador, atuava no primeiro.” Após, foi a vez de vestir, durante uma temporada, a camisa do União de Carneiros. A carreira foi encerrada no time Americano. “Com 18 anos, me machuquei, fui para o quartel e nunca mais joguei futebol amador.”
Foi então o momento de estrear nos campeonatos de minifutebol dos clubes Sete de Setembro e Tiro e Caça, em Lajeado. “Depois disso, me dediquei ao bolão.” Com o Clube dos Treze, do CTC, Fauri faturou mais de 30 títulos em dez anos. “Ganhamos oito regionais, nove municipais, além do Estadual e Brasileiro de Bocha.”
De volta ao futebol, mas desta vez no profissional, Fauri foi durante dois anos o vice-presidente do Clube Esportivo Lajeadense, período em que fez dobradinha com Élio Giovanella. “Durante esse período, tive o prazer de conhecer o Daltro Menezes. O pouco de futebol que aprendi foi com ele.” Entre os ensinamentos, estava que deve haver pouca conversa e mais objetivo. “Me espelhei muito nele.”
Com laços fortes no futebol profissional de Lajeado, Fauri recebeu propostas para atuar como auxiliar técnico no Juventude, de Caxias do Sul, e no Guarani, de Venâncio Aires. “A única coisa que me arrependo de não ter feito foi não ter tido a oportunidade de tentar ser treinador profissional de futebol.”
Lembranças de treinador
No primeiro time em que foi treinador, Fauri ficou com o 3º lugar e, no ano seguinte, com o vice-campeonato. “Comecei a minha carreira no São Rafael, de Cruzeiro do Sul, a convite da comunidade.”
Após, foi a vez de o time do Bairro Olarias receber de braços abertos o talento do técnico. “Conquistamos o bicampeonato no Municipal de Lajeado.” Mais tarde, em 1996, Fauri foi para Teutônia trabalhar no Canabarrense.
Com o time, ele foi campeão municipal em 1996 e 97 e, depois, campeão regional em 1997. No ano 2000, retornou ao Olarias com uma campanha elogiável, tanto no Municipal quanto no Regional. Entretanto, o time foi freado nas finais e ficou com o troféu de 2º lugar nas duas competições.
Em 2001 e 2002, Fauri foi campeão estadual de forma invicta, tornando-se, assim, bicampeão estadual com o Canabarrense. “No primeiro Estadual, o time ganhou um veículo Celta, e no segundo, um Gol.” Fauri elogia o trabalho do amigo Rosinha e afirma que o resultado foi satisfatório graças à dupla que deu certo. “Ele era o auxiliar técnico.”
De volta a Lajeado, o treinador vestiu a camisa do União Campestre por dois anos - em um, foi campeão municipal de forma invicta, e no outro, perdeu para o União de Carneiros no saldo de gols, ficando com a vice-liderança.
Depois foi a vez de treinar o Águia Azul, de Fazenda Vilanova, no Campeonato Regional. “Fizemos a final contra o Juventude de Linha Arlindo. Perdemos fora de casa, mas ganhamos em Fazenda Vilanova.” O jogo decisivo foi no campo do Lajeadense, com dois atletas expulsos. O time de Fauri sentiu e acabou com o título de vice.
No ano seguinte, a convite de empresários e do prefeito do município, Fauri foi preparar o Encantado. “Na sexta-feira, me chamaram para um jantar, e o campeonato começava no domingo. Fiquei surpreso, mas aceitei o desafio.” Naquele ano, o grupo ficou com o 3º lugar.
Por fim, o treinador encerrou a sua carreira no União Campestre, em que disputou com outras 15 equipes o Estadual. “Conseguimos ficar na liderança de forma invicta na primeira fase, mas, na semifinal, perdemos em casa, aos 49 minutos do segundo tempo, para o Tamoio.”
Trabalho x reconhecimento
O ex-treinador coleciona amigos por onde passa e conta orgulhoso que sempre fez questão de lotar os estádios. “Eu era bastante marqueteiro. Fazia questão de convidar as pessoas.” Emocionado, com lágrimas nos olhos ao lembrar de fatos que marcaram a sua história dentro do futebol amador da região, Fauri afirma que o reconhecimento é uma consequência e que o maior presente que recebe quando encontra algum conhecido da época em que treinava são o carinho e as lembranças dessas pessoas. “Aonde eu vou, sou conhecido.”
Fauri recorda de um episódio que marcou bastante a sua carreira no futebol. “Isso aconteceu em 1997, no segundo ano em que treinei o Canabarrense.” Com bastante incentivo financeiro, na época, a equipe diretiva montou um plantel para faturar o título e não deu outra. Com Mauro Sbaraini, Itamar Gonzatti e Banhara, entre outros, o time gritou “é campeão”.
Mas, uma história paralela ao título, emociona até hoje. “Fui até a casa do Banhara, e ele não queria mais jogar. Estava com problemas de saúde, e tive dificuldades em convencê-lo a defender o nosso time.” Fauri, na época, garantiu ao jogador que se ele retornasse aos gramados, ele estaria na vitrine e, consequentemente, teria a possibilidade de voltar ao futebol profissional.
Já na semifinal pelo Canabarrense, o técnico Poletto - na época do Inter de Santa Maria - ligou para Fauri e mostrou interesse em levar o Banhara para o time. “Ele jogou a final comigo, assinou contrato com o Inter, depois foi para o time da Ulbra, ficou vice-campeão estadual, fez os estudos na Ulbra e conseguiu vencer na vida.”
Texto: Carolina Gasparotto

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