04/08/2017

Marcos Minoru Otsuka

O nome da ginástica olímpica no Vale do Taquari

O nome da ginástica olímpica no Vale do Taquari
Após aceitar o desafio de coordenar a Ginástica da Univates, Marcos Minoru Otsuka ganhou o seu espaço e, hoje, é responsável por levar o esporte para mais de 600 crianças
Quando aceitou o desafio de coordenar o projeto de ginástica do Centro Universitário Univates, em 2007, Marcos Minoru Otsuka, 33 anos, nem imaginava que seria capaz de mudar a vida de crianças como Daniel Dopke dos Santos, 13 anos. Todos os dias, o menino vai para a escola, almoça rápido e embarca no ônibus em Cruzeiro do Sul. Ele desce no Bairro São Cristóvão, em Lajeado, por volta das 12h50min, e caminha cerca de 20 minutos até o Complexo Esportivo da Univates, onde começa a aula de ginástica, às 13h30min.
O papel do professor é ensinar o esporte, revelar talentos e colocá-los em competições. Mas, no dia a dia, aparecem situações em que é preciso ir um pouco além. Atualmente, quatro crianças frequentam as aulas de ginástica na Univates porque “parceiros anônimos” fazem questão de arcar com as despesas. Isso acontece, segundo Otsuka, porque existe muita vontade por parte desses atletas, além de talento.
Prova disso é o esforço diário de Daniel. “Não temos como negar a prática esportiva para crianças como ele. Meu papel também é o de contribuir na formação do caráter e da personalidade deles. Se não for atleta, tudo bem, mas que seja um cidadão de bem.” Com essa filosofia, Otsuka mantém o seu trabalho não só na Univates, mas também em outros lugares.
O professor possui parceria com as prefeituras de Estrela e de Nova Bréscia, além de dar cursos para colegas de profissão. Em Estrela, as aulas de ginástica são gratuitas, e em Nova Bréscia, todas as crianças têm, uma vez por semana, aula de ginástica na escola, ou seja, o esporte está inserido no ambiente escolar e atinge todos. Em ambas as cidades, Otsuka desempenha o papel de coordenador.
Além disso, o professor mantém, desde 2008, um trabalho de ginástica no Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat). Desta forma, tanto o Ceat quanto a Univates são entidades filiadas à Federação de Ginástica e podem participar com os seus alunos de competições e de eventos oficiais.
O início
Quando o Ministério do Esporte liberou uma verba para a compra de aparelhos de ginástica, o coordenador do Complexo Esportivo da Univates, Clairton Wachholz, o “Xis”, convidou Otsuka para aceitar o desafio de coordenar as aulas dentro do centro. “Morava em Canoas até então, e meu nome apareceu por indicação de uma conhecida.”
Natural de São Bernardo do Campo, Otsuka explica que foi o responsável por trazer a ginástica de trampolim para o Rio Grande do Sul. “Fui atleta profissional da Ulbra, onde também fiz minha graduação em Educação Física, entre 2002 e 2006.”
No mês de agosto de 2007, Otsuka chegou a Lajeado. “Comecei do zero. Cuidei da estruturação do espaço, disposição dos aparelhos, cronograma e tipos de treinamento.” Dois meses depois, as aulas já se iniciavam no complexo esportivo. “Sempre digo que a história da ginástica começou nesse período.”
Até a metade do ano de 2008, Otsuka era o único professor de ginástica da Univates, tendo, depois, o apoio de Leandro Oliveira Rocha, que foi peça importante no início do projeto, pois ajudou em tudo o que foi preciso.
Como havia a parceria com o Ministério do Esporte, era preciso prestar contas sobre o andamento do projeto. “Em poucos meses, já precisei separar alguns atletas para participar da primeira competição estadual da Univates.” E já no primeiro desafio, para a alegria do grupo, Matheus Hepp foi campeão no trampolim na categoria infantojuvenil. “Passado o sufoco foi possível prestar as contas e manter o projeto, que funciona até hoje.”
E assim, de 20 alunos, o número foi para 60, depois 80 e, atualmente, participam do projeto da Univates entre 115 e 120 alunos. “Muitos atletas já passaram por aqui, alguns se destacam mais, outros menos, mas o principal é ter a oportunidade de viver o esporte.” Otsuka diz que possui a pré-equipe e a equipe principal.
Destaques e desafios
Otsuka sempre explica aos alunos a importância de saber perder, pois é preciso ganhar experiência para atingir cada vez mais os melhores resultados. Um dos destaques da equipe da Univates é Gustavo Laureano dos Santos, de 11 anos. Ele foi campeão brasileiro de tumbling e vice-campeão no trampolim sincronizado.
Letícia Eiko Ezawa, de 17 anos, é outro destaque. Participou de dois mundiais nos anos de 2014 e 2015; o primeiro nos Estados Unidos, em que ficou com o 44º lugar. Na segunda oportunidade, na Dinamarca, ela ocupou o 34º lugar para orgulho do técnico. “Em 2015, a nossa pretensão era ficar entre as 40 melhores do mundo e conseguimos.”
Letícia também é campeã brasileira no trampolim, na categoria juvenil, e sul-americana no adulto feminino. “Como sou árbitro internacional, consigo ter uma visão mais ampla do que cada atleta precisa melhorar para fazer melhor em sua próxima competição.”
Otsuka diz que muitas já foram as alegrias e conquistas com diversos atletas de seus projetos, mas o que trava esse crescimento é a falta de incentivo ao esporte no Brasil. “Se não temos atletas de ponta até hoje é pela má administração do governo e de suas confederações.”
O professor ressalta que, se fosse possível manter os atletas em um maior número de competições, eles estariam mais bem preparados, pois teriam ritmo de competição. “Isso traria muito mais resultados.”
O surgimento da Adesva
Para melhorar essa realidade, Otsuka diz que vai colocar em funcionamento a Associação Desportiva e Cultural dos Vales (Adesva). Com o auxílio dos pais dos alunos será possível buscar recursos externos para ajudar a fomentar mais ainda a ginástica olímpica. “Em outubro de 2015, o Daniel ficou de fora do Sul-Americano por falta de recursos financeiros, e queremos mudar isso.”
Otsuka diz que seu sonho é poder oportunizar para todas as crianças e adolescentes, que frequentam a escola, o contato com a ginástica artística, rítmica ou de trampolim. “Não tem como gostar do que nunca se experimentou.” O professor destaca que o esporte é um benefício para a saúde, além de proporcionar ao aluno um ambiente saudável.
A dissertação de mestrado de Otsuka comprovou que apenas uma escola de Lajeado oportuniza o contato do aluno com a ginástica. “Queria que a cultura local fosse diferente, pois uma criança aprende valores como respeito e responsabilidade vivendo no mundo do esporte.”
É o que garante Daniel: “Me sinto bem aqui”. O jovem atleta diz que é um presente poder treinar na Univates e aprender com o seu mestre. “Sei que eu não posso parar. Não quero me perder, pois a ginástica será o meu futuro. Ainda vou ser um grande atleta.”
Texto: Carolina Gasparotto

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