04/08/2017

Rudimar Golin, o "Maravilha"

O menino gandula virou o gigante do futebol amador

O menino gandula virou o gigante do futebol amador
Rudimar Golin, 36 anos, o “Maravilha”, conquistou o seu espaço na região, fez o seu nome, faturou títulos e dá uma aula de humildade e persistência
O menino que sonhava em ser jogador. Esta é uma frase bastante clichê no mundo da bola, mas um dos fatores decisivos para não se tornar apenas mais um é manter os pés no chão, com caráter, humildade e muita força de vontade. Eis três qualidades muito presentes na pessoa de Rudimar Golin, 36 anos, o “Maravilha”.
Natural de Maravilha, em Santa Catarina, o atleta foi apelidado em Lajeado com o nome da sua cidade natal. Mas, antes de chegar à cidade-polo do Vale do Taquari, muitas foram as vivências do jogador de futebol. Com sete irmãos, Maravilha teve uma infância pobre, mas repleta de amor e de carinho, tendo na retaguarda os pais adotivos Élio e Santa Maria Golin (já falecida). “Trabalhava de dia em uma marcenaria e estudava à noite.”
Mesmo com pouco tempo disponível, aos 12 anos, Maravilha já frequentava os campinhos do bairro para trabalhar de gandula em troca de um refrigerante. “Gostava de assistir aos jogos”, recorda. De fora, ele já imaginava estar dentro do campo. “Jogava com os pés descalços no chão batido no bairro em que morava. Com 13 para 14 anos, participei dos jogos escolares da cidade.”
Depois disso, o futebol começou a fazer parte da sua vida. “Em 1994, fui para Chapecó, defender o time da AABB de Rotesma (equipe de futsal), depois fui para o Atlético de Chapecó (equipe de futebol), onde fiquei até 1997.” Na época, Maravilha pegava o par de chuteiras do vizinho Vilson Simon emprestado. “Usava, lavava e devolvia. Assim foi por várias vezes.”
Mas foi em 1997 que a vida de Maravilha começou a mudar. “Recebi o convite para jogar na categoria de base do Santa Cruz.” O jogador recebia almoço, passagens e a tão sonhada chuteira. “Meu primeiro par ganhei de presente do treinador.” O atleta recorda do dia em que o volante do Avenida Rogério Cabeça foi até a loja em que ele trabalhava atrás de novos talentos. “Foi lá perguntar se tinha alguém para jogar no Santa Cruz.”
Habilidoso, Maravilha logo foi citado pelo patrão. “Na quinta-feira, eu era liberado para jogar em Chapecó, mas, com a proposta, tive que deixar o emprego e a minha família e ir, pela primeira vez, morar sozinho em outra cidade.” Apenas um teste foi suficiente para que o negócio estivesse fechado.
Com o propósito de dar uma vida melhor aos pais, o jovem focou os treinos, deu o seu melhor como volante e, aos poucos, mesmo com pouca idade, passou a chamar a atenção da comissão técnica do Santa Cruz. “Uma vez por semana ligava para a minha mãe de um orelhão. Como nós não tínhamos telefone em casa, ela ía até a casa da vizinha para poder falar comigo.”
Carreira na base
Em 1997, Maravilha participou da melhor campanha defendendo a camisa dos juniores do Santa Cruz. “Joguei até julho. Como o time ficava parado no segundo semestre, voltei para Maravilha, momento em que comecei a trabalhar em uma revenda, fazendo de tudo um pouco.”
No mesmo ano, o jovem conheceu a esposa Sônia, e um convite em forma de presente chegou até a sua casa. “O Atlético de Chapecó veio atrás de mim para fazer um teste no São Paulo.” Em dezembro de 1997, Maravilha jogou, pela equipe juvenil, a Copa Votorantin. “De uma seleção com 34 mil jogadores, ficaram 15, e eu era um dos três a mais que entraram depois.”
Após a disputa do torneio, dos 18 jogadores, permaneceram apenas cinco, e lá estava na lista o nome de Maravilha. “O grupo se apresentou novamente no ano seguinte e disputamos a Copa Nike, um torneio entre Brasil e Japão e a Copa USP.” Com o título na Copa Nike, o grupo faturou uma vaga para representar o Brasil no Sul-Americano, em Buenos Aires. “Quando voltei da Argentina, continuei com os treinos normais no São Paulo.”
Talentoso, Maravilha chamou a atenção, e um time da Rússia queria a sua contratação. Na época, o atleta teve problemas com o seu empresário, que foi contra a sua ida para fora do país. “Eles mostraram interesse em me contratar, mas o meu empresário não aceitou a proposta.”
Ao retornar de São Paulo, Maravilha fez questão de presentear todos os amigos que jogavam “peladas” com ele. “Dei um calção, uma camisa, par de meias e chuteiras para cada um deles.” Ainda bastante abalado com a negativa de seu empresário, o atleta rumou para o Guarani de Venâncio Aires. “Joguei o segundo semestre de 1998, e em 1999, voltei para o Santa Cruz.”
Em 1998, a família ficou completa. Nasceu o filho de Maravilha e Sônia, Vinícius Golin, agora com 17 anos.
Na cara do gol
Foi no ano 2000 que Maravilha conseguiu mostrar o seu futebol no grupo principal. “Tinha 19 anos, e o Gerson Poletto me deu uma oportunidade. Disputamos o Gauchão.”
Nesse ano, o jogador levou a família para morar em Santa Cruz do Sul. “Como só havia futebol no primeiro semestre, comecei a trabalhar na Requinte Pneus.” Estava tudo tranquilo até que a vida de Maravilha passou por uma nova reviravolta. “O empresário de Chapecó veio atrás de mim para jogar em Foz do Iguaçu, depois me levou para treinar na Suíça, onde fiquei durante um mês.”
Com muitas limitações em decorrência do frio, o jogador treinava com touca, luvas e duas calças. “Eles estavam acertando valores, voltei para Maravilha e era para retornar, mas meu empresário me enrolou por meses.”
Vida em Lajeado
Sem emprego, Maravilha deu adeus ao sonho de jogar futebol profissional quando aceitou a proposta para trabalhar na filial da Requinte Pneus, no município de Lajeado. “Comecei a jogar amador com o Marcio Klaus, passei a vestir a camisa de meia-atacante do América, no campeonato do Clube Sete de Setembro.”
Depois, o atleta jogou, com o Campestre, o Regional de 2002, momento em que faturou o título de campeão. “Em um ano, que não me lembro qual, fui campeão oito vezes no Municipal.”
Em 2001, a família mudou-se para Lajeado. Em 2002, Marcio Klaus comprou a loja em que Maravilha trabalhava, e ele permaneceu no local até 2005. “Em janeiro de 2006, comecei a trabalhar como vendedor no Sírio Automóveis, sendo que, este ano, completei dez anos de empresa.”
Maravilha sente por não ter tido um empresário mais sério, mas, por outro lado, agradece a vida que tem e que conquistou. “O futebol amador me proporcionou muitas coisas boas.” Foram muitos fins de semana de trabalho para alcançar o sonho da casa própria, para dar uma estrutura à sua família e uma boa educação para o filho. “Até 2006, jogava de segunda a segunda, tendo cerca de R$ 1 mil a mais de extra por mês, entre futebol e futsal. Sempre quis dar à minha família tudo o que não tive.”
O jogador diz que, aos poucos, foi diminuindo o ritmo em função da idade, mas também pela família. “Não me arrependo de nada que fiz. Faria tudo de novo. Até agradeço que deu tudo errado, pois fomos muito bem acolhidos aqui em Lajeado.”
Maravilha diz que irá jogar dentro dos seus limites e não pensa em aposentadoria. “Não posso garantir quando será meu último campeonato, tudo dependerá da minha condição física.” Mas uma coisa é certa: “O dia que parar, será no União de Carneiros”.
Atleta do time desde 2002, o jogador guarda um carinho especial pela agremiação, assim como pelo time Madalozzo, de Santa Catarina, e São Brás, de Boqueirão do Leão. “No amador, fiz amizades para a vida inteira.” Já quando o assunto é time profissional, Maravilha diz que torce pelo Internacional.

Titulos
Maravilha possui mais de 200 medalhas e mais de 50 troféus. Ele destaca alguns títulos conquistados ao longo dos anos:
Campeão regional com o União Campestre, em 2002;
Campeão regional com o Rui Barbosa de Arroio do Meio, em 2005 e 2011;
Campeão regional com o União de Carneiros, em 2007 e 2014;
Campeão municipal em Lajeado, sendo três vezes com o União de Carneiros e uma vez com o União Campestre;
Campeão municipal em Venâncio Aires, sendo duas vezes com o Juventude de Linha Arlindo e uma com o 11 Amigos;
Campeão municipal em Santa Cruz do Sul, sendo quatro vezes pelo Boa Vista, uma pelo Cruzeiro e uma pelo Palmeiras;
Campeão municipal em Boqueirão do Leão, sendo cinco vezes pelo São Brás e duas pelo São Roque;
Campeão municipal em Teutônia, sendo duas vezes pelo Esperança e uma pelo Atlético Gaúcho;
Campeão municipal em Arroio do Meio, sendo uma vez pelo Rui Barbosa e uma pelo Cruzeiro de Linha 32;
Campeão municipal em Paverama, pelo União;
Campeão municipal em Monte Alverne, sendo uma vez pelo Juventude e uma vez pelo Saraiva;
Campeão municipal em Estrela, sendo duas vezes pelo União;
Campeão municipal em Candelária, pelo Minuano;
Campeão municipal em Cruzeiro do Sul, sendo uma vez pelo Tamoio e uma vez pelo Canarinho;
Campeão municipal em Encantado, com o Nacional;
Campeão regional Sicredi pela Asine, sendo uma vez pelo Esperança e uma vez pelo Boa Vista;
Campeão municipal em Maravilha-SC por oito vezes, sendo três vezes pelo Madalozzo, duas vezes pelo CRM, uma vez pelo Internacional e duas vezes pelo 1º de Maio;
Campeão regional em Maravilha-SC, pelo CRM;
Campeão do Cafusal por seis vezes;
Campeão Série Bronze de Futsal pela Alaf, em 2007;
Campeão da Primeira Divisão do CTC cinco vezes, sendo três com o Atlanta, uma com o Só Bala e uma com o Galera;
Campeão da Segunda Divisão do CTC duas vezes, com o Cosmos;
Campeão da Terceira Divisão do CTC, com o Cosmos;
Campeão da Primeira Divisão do Clube Sete de Setembro cinco vezes, sendo quatro com o Galera e uma com o Viracopos;
Campeão da Primeira Divisão da Soges, com o Aldeia;
Campeão regional de futsal de Santa Cruz do Sul, sendo duas pela TransPaulo e uma pela Monte Car;
Campeão da Copa RBS-SC pela cidade de Maravilha;
Campeão estadual duas vezes, pelo Canabarrense;
Texto: Carolina Gasparotto

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site.