03/08/2017

Julio Schnorr, o “Linho”

O ronco do motor anuncia a sua chegada

O ronco do motor anuncia a sua chegada
Há 11 anos, Julio Schnorr, o “Linho”, desfila a bordo de sua Harley-Davidson Softail FX STi 2005. Mas sua paixão por motocicletas não para por aí
Antes mesmo de dobrar a esquina da rua onde reside, em Arroio do Meio, a família já sabe que em poucos segundos, Julio Schnorr, o “Linho”, 58 anos, entrará pelo portão pilotando sua Harley-Davidson Softail FX STi 2005. Ao abrir a garagem, é possível perceber a paixão por motocicletas, estrada e liberdade. São inúmeros objetos decorativos entre placas, capacetes, miniaturas, jaquetas de couro, quadros, além de livros e revistas sobre motocicletas.
O ambiente, elaborado com todo carinho pelo aventureiro, foi criado com o objetivo de centralizar sua paixão em uma única área, pois, antes de a ideia ser colocada em prática, havia objetos espalhados por toda a casa. “Há três anos, construí esse espaço. Decorei aos poucos, principalmente com objetos que trago das viagens."
Na garagem, Linho recebe os amigos e foi o que ocorreu no dia em que ele concedeu entrevista à Revista Encontro com o Esporte. Na ocasião, o motociclista estava na companhia do amigo e ex-morador de Arroio do Meio Hunfrey Henz - atualmente ele reside em Rio Grande -, que, durante o passeio de Harley-Davidson com Henrique Monelli e Paulo Bertinetti, resolveu dar uma “esticadinha” até a cidade do Vale do Taquari.
O trio saiu de Florianópolis, passou por Arroio do Meio e depois rumou para Venâncio Aires. “Hoje, conheci mais duas pessoas que, assim como eu e o Hunfrey, apreciam pegar a estrada”, explica Linho. O fato é bastante comum entre os motociclistas que são muito respeitados no asfalto e colecionam amigos por onde passam. “Somos uma grande família. É uma religião. Tá no sangue.”
Para viagens longas ou curtas, o quarteto garante que é imprescindível usar roupas adequadas para motociclista. “Temos todo um ritual antes de sair. Quem sai de moto precisa estar seguro”, aconselha Monelli. “Quem vai de carro passa por um filme; quem vai de moto faz parte desse filme”, acrescenta Linho.
A história
O fascínio por motos chegou aos 9 anos de idade. Um vizinho da família de Linho era mecânico, então, o menino admirava os veículos de duas rodas e cuidava como as marchas eram feitas. “Lembro que eram motos bonitas; eles andavam com as botas abertas e eu gostava daquele estilo livre.”
Durante anos, o oficial de Justiça de Arroio do Meio imaginou como seria ter uma motocicleta. “Tinha muita curiosidade, mas achava que nunca conseguiria, até porque o meu pai era contra, pois achava perigoso.” Mas, como o pai de Linho era caminhoneiro, em um de seus retornos ao lar, teve uma surpresa: “Fiz uns trabalhos, juntei dinheiro e comprei um motociclo”.
O veículo não tinha documentação, e a placa era falsa, mas isso não era problema para Linho. Determinado a aprender a dirigir, o jovem suou a camiseta até conseguir ter tranquilidade em cima do motociclo. “Pedi para o vendedor ligar a moto e saí andando, consegui fazer as marchas sozinho. Caí, levantei e fui de novo.”
Tempos depois, mesmo contra a sua aquisição, o pai de Linho pegou o capacete, ligou o motociclo e foi passear pela cidade. “Desde aquele dia, ele passou a pedir emprestado.” Sem querer, Linho lançou uma paixão que virou moda na família. “Em pouco tempo, cinco dos meus irmãos tinham moto.”
Espírito aventureiro
A adolescência de Linho foi marcada por muitas histórias. Com apenas 13 anos, ele viajou por todo o Estado de carona. “Tive muitas experiências. Em uma, fiquei 30 dias andando sem dinheiro.” Com 17 anos, o aventureiro foi de carona até Belém do Pará. “Dormia debaixo de caminhão, no gramado de beira de estrada e em mesa de bar.”
Com 18 anos, foi a vez de investir em uma motocicleta mais potente, um modelo de 500 cilindradas, fabricada em 1938. “Quanto mais tombo levava, mais queria a moto.” Linho ditava moda e chamava a atenção, às vezes até demais. “Não podia passar na frente do hospital. Quando passava na frente da escola, reclamavam do barulho e, então, aparecia a polícia.”
Depois, Linho teve uma moto de trilha, pois gostava de ir para o interior. “Cuidava bem delas (motos), mas, depois do casamento, a minha família virou a prioridade.” O oficial de Justiça recorda que ficou bastante tempo sem motocicleta, época em que comprou sua casa e um automóvel. “Ficava sempre esperando a oportunidade certa de ter novamente, e ela chegou quando eu e minha esposa completamos 15 anos de casamento.”
O arroio-meense diz que comprou uma moto grande e ficou durante cinco anos com ela. “Tempo depois vendi e fiquei mais cinco anos sem.” Durante esse período, Linho descobriu um novo talento: o artesanato. “Como não podia ter uma moto de verdade, no meu tempo livre, passei a fazer umas miniaturas de madeira.”
Harley-Davidson
Os filhos de Linho - Júlio, 30 anos; Josiane, 28 anos; e Jaqueline, 20 anos -, além de sua esposa, Elisete, 52 anos , o incentivavam a comprar novamente uma motocicleta. “Eu e meu filho fomos ver uma Harley-Davidson. Na época, estava em promoção e com ótimas condições de pagamento.”
Mesmo assim, Linho desanimou, pois não teria dinheiro suficiente para dar de entrada na moto. “Minha esposa tinha economias, e os meus filhos também, todos me ofereceram os valores que tinham, inclusive a caçula queria dar o dinheiro da Primeira Comunhão.” Então, foi possível dar metade do valor de entrada, e o restante do modelo zero-quilômetro foi parcelado. “Fui pagando aos poucos os meus filhos, e a esposa até hoje não paguei.” (risos)
Linho é um dos fundadores do motogrupo Dragões do Asfalto de Arroio do Meio, o qual tem, atualmente, 14 integrantes. Eles se reúnem todos os sábados à tarde. “Arrumamos um motivo para pegar a estrada. Esses tempos, fomos até Carlos Barbosa tomar um chocolate quente.”
Mas nem sempre os passeios ocorrem com o motogrupo. De acordo com Linho, sua esposa é bastante parceira. “Já fomos com outros casais para o Uruguai, Chuí, Brusque, entre outros lugares.”
Além disso, o patriarca da família comprou uma Ducatto para nove pessoas, totalmente personalizada. Assim, toda a família passou a organizar viagens em conjunto. “Já temos, inclusive, o lugar da nossa netinha, recém-nascida, reservado.”
Texto: Carolina Gasparotto

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