03/08/2017

Ângelo Afonso

O garoto que brincava de narrar partidas dentro de casa, hoje se tornou o homem das narrações em Porto Alegre

Ângelo Afonso
O jovem grande narrador
O garoto que brincava de narrar partidas dentro de casa, hoje se tornou o homem das narrações em Porto Alegre
"Que homem esse Juliano!." Sim, esse bordão que ficou marcado na boca de torcedores de todo estado depois de uma partida entre Grêmio e Lajeadense é de Ângelo Afonso, natural de Encantado, que tão jovem, aos 21 anos, já faz sucesso no radiojornalismo do Estado.
Filho de Rudimar Piccinini, ícone da narração esportiva do Vale do Taquari, Ângelo Afonso teve muito mais que indicação do pai para se tornar um narrador reconhecido com apenas 21 anos. Ele se dedicou dias e noites, desde muito cedo, em uma de suas brincadeiras favoritas: imitar as narrações do pai dentro de casa.
Ângelo começou a acompanhar o pai em jogos e transmissões com apenas quatro anos. O garotinho mal sabia falar e já usava o controle remoto da televisão da mãe como se fosse um microfone do pai para narrar jogos em casa.
Com a evolução da tecnologia e o aperfeiçoamento de seus conhecimentos na área, Ângelo evoluiu em suas brincadeiras. Quando ganhou seu primeiro computador e teve acesso à internet descobriu que poderia fazer a brincadeira ficar um pouco mais séria. Ele gravava tudo o que narrava durante o dia (futebol, futsal, basquete, automobilismo, basebol, vôlei entre outros esportes) e a noite mostrava tudo para o pai. "Narrava e salvava no computador. Quando mostrava para o meu pai, dizia pra ele que estava tentando ficar tão bom quanto ele."
Com 12 anos, descobriu que tinha a possibilidade de fazer participações em web rádios dentro de sua casa, em Encantado. "Tinham muitas pessoas como eu, que gostavam da profissão e estavam começando com o trabalho. E a web rádio foi uma forma de mostrar o que sabia fazer abertamente." Até então, apenas os pais e os vizinhos ouviam Ângelo. "Eles sempre contam que era certo que minha profissão seria essa porque me ouviam algumas noites até tarde narrando jogos", ri.
Sua primeira experiência em Web Rádio, com 13 anos, foi na Esporte ao Vivo de Rondônia. Ele e mais outro narrador faziam as transmissões de jogos, cada um de sua casa em estados diferentes. Diversos jogos importantes de campeonato brasileiros e campeonatos paulistas. "Eu narrava os jogos e o colega, Daniel Brandão, era o comentarista e repórter."
Depois começou a narrar na web rádio Anexo e Reflexo, equipe Show de Bola de Campinas (SP), e teve ainda mais oportunidade de narrar jogos, em especial de equipes paulistas. Isso ocupava todos os seus dias de adolescente.
Enquanto os amigos saiam para jogar futebol, Ângelo demonstrou seu amor pelo esporte a partir dos microfones. "Desde pequeno sempre dizia que queria fazer isso e me decidi cedo. Era uma coisa muito maluca. Na terceira série, na escola, já dizia que queria ser narrador. Isso fez com que pudesse me aprimorar muito cedo."
Esse desejo desde criança pela narração foi que instigaram o jovem a aprender cada vez mais e a sugar tudo o que podia de conhecimentos de seu pai Rudimar. Essa bagagem toda foi que deram esse sucesso precoce na área da narração esportiva, dominada hoje, em especial por pessoas mais velhas no ramo da locução.
"Não cheguei a uma emissora sem saber de nada. Eu sempre me testei muito e busquei conhecimento durante anos."
Seu começo profissional
Com 15 anos, tendo pelo menos os conhecimentos básicos da área, entrou na Rede Encanto FM com participações durante a Copa do Mundo na África, em 2010, no Programa de Humor Sem Censura. O grupo decidiu fazer uma abordagem diferente e criaram o personagem Ângelo o Narrador. Ele falava tudo narrando, associava tudo ao futebol. "Participar de um programa de humor ajudou muito a desinibir, a perder qualquer timidez que ainda tivesse."
O projeto durante a Copa toda com transmissões em diversas cidades da região. O pai comentava os jogos, Ângelo narrava e o os comediantes da rádio entravam para fazer piadas. "Isso mostrou que estava preparado também para situações como essa."
Logo entrou para a equipe esportiva da Radio Emoção, assim que foi lançada. Ficou dois anos e meio como segundo narrador e repórter esportivo.
Em 2013, com 17 anos, ficou até o fim do Gauchão no Vale do Taquari e deu sequência aos sonhos da carreira profissional. Se mudou para Porto Alegre para estudar jornalismo na PUC. Semanas depois de entrar na universidade já conquistou uma vaga de estágio na Rádio Grenal de Porto Alegre.
Com 21 anos, completados no dia 27 de maio, já está quase três anos em uma emissora de renome no Estado que leva o nome do maior clássico do Estado, com transmissões 24 horas por dia, sendo considerada uma das maiores de Porto Alegre.
Trabalhar em uma grande rádio
Uma transmissão da Rádio Grenal chega a ter mais ouvintes do que o total da população de algumas cidades do Vale do Taquari, por exemplo. Em horas de maior audiência chega a 20 mil ouvintes. Isso faz com que o nome do narrador, jornalista, fique conhecido, além do aumento da responsabilidade que ele tem no trabalho. "Tudo o que você fizer, tanto as boas como as ruins, vão repercutir muito mais, por conta da audiência."
Essa oportunidade, faz com que Ângelo divida a cabine de trabalho com pessoas que admirava muito desde criança como Aroldo de Souza. "Minha maior influência e exemplo sempre foi meu pai, mas o Aroldo, com certeza foi segundo. E agora trabalho e aprendo com ele."
Segundo ele, Aroldo é o locutor que mais transmitiu grenais na história do Rio Grande do Sul, com mais de 150 Gre-Nais narrados.
Outras figuras importantes do jornalismo também são colegas dele como Roberto Pato Moure, que foi o primeiro Assessor de Imprensa do Brasil, e um ídolo do jornalismo em Roma, na Itália; e Darci Filho que tem muita estrada na área.
Fazer sucesso e ser conhecido
Ângelo é humilde. Diz que não é famoso. Mas admite que muitas pessoas o reconhecem só pela voz. Conta que já teve várias ocasiões, como em uma pizzaria, por exemplo, que ligou para fazer um pedido e o atendendo o reconheceu na hora. "Ser reconhecido mesmo quando não se está trabalhando é muito legal. Quando se está com a camiseta da rádio em um estádio é mais fácil associar."
Ele diz que não quer ficar famoso, que isso nunca foi o intuito dele, mas é muito importante para a profissão ser conhecido e receber o carinho do ouvinte. "É a melhor parte. A internet aproximou ainda mais as pessoas do locutor."
O narrador é o principal responsável em contar a historia da partida, isso faz com que ele fique um pouco mais conhecido em relação aos outros locutores. "Não quero a fama, mas a admiração pelo trabalho." Conta que recentemente recebeu às 4h da madrugada uma mensagem de uma pessoa, que está fora do país em outro fuso horário, elogiando o seu trabalho e dizendo que escuta sempre a rádio e suas transmissões, "isso vale muito."
A narração que mais marcou
Ângelo diz que tem uma narração que tem todos os ingredientes para ser a mais marcante nestes anos de jornalismo: sua primeira.
Era o jogo do Caxias e São José, pela Emoção FM, no Estádio Centenário, foi um jogo de quartas de final do Campeonato Gaúcho. Os dois empataram no tempo normal e o jogo foi para os pênaltis. O goleiro do Caxias, André Sangali, que era um amigo dele de Encantado, pegou quatro pênaltis dos cinco que foram cobrados contra ele. "Foi algo totalmente histórico, não é todo dia que um goleiro pega dois pênaltis, imagina quatro então."
Ele lembra que estava emocionado por ser seu primeiro jogo, ser decisivo, ir para os pênaltis e ainda com um marco histórico, com um amigo dele na partida. "Me emocionei narrando. Chorei quando pegou o pênalti e não porque estava torcendo pelo time ou pelo goleiro, mas por ser apaixonado pelo futebol. Isso faz com que eu me emocione, me arrepie, por qualquer situação."
Foi feito um CD desta narração e ele e o goleiro escutam sempre. Ficará marcado na historia de ambos. "Você é a voz que pode contar a história mais importante da vida de alguém."
Narração que marcou seu nome
Torcedores abordam ele constantemente com um bordão de um jogo Grêmio 2 a 0 Lajeadense, em 2015, pelo campeonato Gaúcho na Arena. Ângelo lembra que Grêmio ganhou do Lajeadense e o jogador Juliano teve uma grande atuação, uma partida antológica, com um segundo gol espetacular.
Durante a transmissão desse segundo gol ele falou: "que homem esse Juliano!" Explica que quis dizer como o jogador consegue fazer uma coisa tão difícil como se fosse a coisa mais fácil do mundo, e isso marcou o torcedor. Já se passou mais de um ano e ouvintes ainda lembram da frase constantemente.
Texto: Carine Krüger

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