03/08/2017

André Prediger

Promotor campeão é exemplo para os filhos dentro e fora do tatame

André Prediger
Promotor campeão é exemplo para os filhos dentro e fora do tatame
Ouro no Brasileiro de Taekwondo, André Prediger, 40 anos, repassa os ensinamentos das artes marciais aos filhos, Bernardo, 8 anos, e Gabriela, 10 anos
Ele luta dentro e fora do Ministério Público. Quando não está cumprindo suas responsabilidades como promotor de Justiça ou na sala de aula como professor do curso de Direito da Univates, André Prediger, 40 anos, gosta de dedicar algumas horas à doutrina oriental, onde ele é conhecido como Samurai. Para sua alegria, os dois filhos, Bernardo, 8 anos, e Gabriela, 10 anos, seguem os mesmos “golpes” do pai e, aos poucos, começam a ganhar o reconhecimento nas competições que participam.
Natural de Santo Ângelo, Prediger diz que durante a infância já mostrava interesse pelas artes marciais, mas sua família era contra a prática esportiva, visto que ela era pouco divulgada e existia, na época, um certo preconceito. “Antes mesmo dos meus pais permitirem, já comprava revistas e filmes com o meu dinheiro.”
O pai jogava futebol amador, a mãe gostava de voleibol e o incentivo dos dois era para que o filho escolhesse algum esporte mais popular. “É mais fácil dizer o que não pratiquei, pois passei pelo futebol, voleibol, tênis, surfe, ciclismo, entre outros.” Mas, em nenhum dos esportes, Prediger se realizava. Por isso, aos 13 anos, o jovem ingressou na primeira academia de Judô e se familiarizou com diversas modalidades, como o jiu-jítsu e muay thai, por exemplo. “Desde então, não parei mais. Sinto que nasci com isso.”
Empolgado com o mundo das artes marciais, logo no início da faculdade de Direito, Prediger largou os estudos para dar aulas de capoeira. “Cheguei a ter isso como forma de profissão, mas optei por voltar ao curso.” Diplomado, o campeão fez concurso público para promotor de Justiça e paralelo a isso, passou a frequentar a Academia Odorissi, de Lajeado, onde conheceu o taekwondo. “Larguei o tênis, o ciclismo e foquei no taekwondo, com quatro a cinco treinos por semana.”
Em busca da faixa preta
Mesmo com um vasto conhecimento em artes marciais, ao ingressar na Academia Odorissi, Prediger foi tratado da mesma forma que os demais alunos e precisou mostrar comprometimento para passar por todas as cores de faixa até receber a sonhada faixa preta. Desta forma, o atleta precisou ser humilde, guardar o seu conhecimento para estar aberto a novas ideias. “Costumo dizer que todo mundo que entra, precisa estar com a sua xícara vazia para se servir com o chá deles. Então, tive que esvaziar a minha xícara para encher novamente.”
O campeão diz que a caminhada de um atleta em busca da faixa preta pode durar de seis a sete anos e, às vezes, ate dez anos. “Comecei com a faixa branca e, assim como os demais, fui aprendendo, crescendo e melhorando dia após dia.”
Como a ideia de Prediger nunca foi lutar para competir, e, sim, aprender a essência da doutrina oriental, que prega valores como o respeito, a humildade, o caráter e o comprometimento, foi um desafio para ele quando o seu mestre garantiu que a faixa preta só seria entregue, após a sua participação em competições. “Não gosto de competir na luta, não praticava para isso e sim para a minha defesa e crescimento pessoal, pois é a minha filosofia de vida.”
Assim, em 2013, na véspera de conquistar a faixa preta, a proposta era que Prediger participasse, durante um ano – de janeiro a dezembro -, de competições para então merecer o que tanto desejava. “Não tive escolha e fui para ganhar a minha faixa preta.” Na verdade, o mestre sabia do potencial do atleta e achava um desperdício deixá-lo escondido em Lajeado, sem que o mundo pudesse conhecer o talento do Samurai.
O resultado não poderia ser melhor, o promotor faturou o título estadual de Taekwondo, depois foi Campeão Brasileiro, vice-campeão Pan-americano e só não foi para o Mundial, por questões pessoais. “Tinha um grande evento em andamento no Brasil e achei que seria muito tumultuado para minha família ficar em aeroportos. Entendi que não seria interessante pela questão da logística mesmo.”
Filhos seguem os golpes do pai
Para a alegria de Prediger ficar completa, os dois filhos também escolheram as artes marciais como filosofia de vida e, além de praticar o esporte, tanto Bernardo quanto Gabriela, já participam de competições e ostentam no peito algumas medalhas. “A Gabriela começou a lutar com 4 anos e o Bernardo com 3.” Ambos, são campeões estaduais e mostram seriedade e compromisso com a faixa que amarram na cintura. “Eles adoram, são super aficcionados. A Gabriela, por exemplo, por muito tempo lutou com meninos.”
O pai campeão diz que não força nada e que os filhos praticam outros esportes. “O Bernardo também gosta de basquete, natação e tênis, enquanto a Gabriela faz ballet, patinação e ginástica olímpica.” Por outro lado, Prediger garante que os dois sempre deixaram claro que, assim como ele, sentem um carinho especial pela doutrina oriental. “É um esporte completo, em que a criança estimula a agilidade, equilíbrio e defesa pessoal.”
Pai e filhos treinam artes marciais na Academia Odorissi. “É o esporte que nos uniu.” Além das aulas em comum, a família está sempre junta nos seminários, em que a esposa de Prediger, Fernanda, 37 anos, também se faz presente. “Durante todo o ano de 2013, durante as competições, viajamos em família.”
Prediger diz que o seu sonho é ver os dois filhos com a faixa preta na cintura. “Quando chegarem nessa etapa é porque estão no caminho certo, pois se forma um novo cidadão a cada nova faixa preta.” O pai coruja conclui que as artes marciais ensinam a ter honra, ética e respeito com os colegas e professor e é um instrumento que chega para somar na educação. “Eles não precisam ser campeões do tatame, mas sim da vida.”
Para o futuro, Prediger diz que não descarta ensinar artes marciais às crianças, mas isso somente quando a sua aposentadoria chegar. Enquanto isso, ele divide o seu tempo entre a sala de aula – atua há dez anos como professor na Univates, as responsabilidades como promotor de Justiça, os cuidados com a família, mas tudo isso sem descuidar de sua saúde. “Atualmente, faço três treinos por semana e vou à academia quatro vezes. Já aos sábados à tarde, jogo um futebol no CTC, com o time Aliança, na primeira divisão do campeonato.”
Fonte texto: Carolina Gasparotto

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site.