02/08/2017

Enzo Lopes

“Corro para ser o melhor”

Encontro com Enzo Lopes
“Corro para ser o melhor”
Ele não é mais uma promessa, apesar de ainda ser bem mais novo que os pilotos contra quem compete. Um dos maiores talentos do motocross brasileiro e mundial, o jovem lajeadense trilha um caminho de vitórias por pistas nacionais e internacionais
“Cuida para não cair desta bicicleta guri!” “Vai mais devagar garoto.” Frases comuns aos ouvidos de muitos meninos quando embalados nas tradicionais brincadeiras sobre duas rodas. Não para Enzo Lopes. Na casa do jovem lajeadense a história sempre foi um pouco diferente sim. A questão é que a “bicicleta” do garoto andava mais rápido e podia até mesmo saltar. Mas Enzo mostrou desde pequeno que o sangue que “corria” por suas veias não era por acaso. Hoje, aos 16 anos, o lajeadense já é referência naquela brincadeira que virou assunto sério. Considerado um dos melhores pilotos de motocross de sua idade na atualidade, o agora adolescente pensa como adulto na hora de avaliar o futuro pelas pistas da vida. Projeta grandes desafios, reconhece obstáculos, mas corre atrás de muitas outras vitórias e sonhos.
Enzo chega para o Encontro com o Esporte um dia depois de disputar etapa da Copa Brasil de Motocross em Santa Catarina. Hoje disputa o título da categoria MX2, para pilotos até 23 anos: é o mais novo deles. Sempre foi assim. Aos três ganhou a primeira moto, quando ainda não se equilibrava sozinho. Pois 13 anos depois tem no currículo 10 títulos brasileiros. Já rodou o mundo correndo. Para os Estados Unidos são ao menos sete viagens por ano. E por lá, onde o motocross é bem mais popular que no Brasil, tem outros 11 títulos “americanos”. Em 2011 foi vice-campeão mundial júnior: maior façanha até hoje de um piloto tupiniquim no exterior. Mas uma das viagens mais inesquecíveis teve a Bélgica como destino, em 2013. “Fui convidado pelo lendário Stefan Everts, piloto decacampeão mundial, para treinar com ele por dez dias. Foi demais”, lembra. Em setembro de 2014 o piloto retribuiu a visita em Lajeado.
Rotinas
Os treinos de Enzo são constantes: físicos e sobre a moto. Estes ocorrem nas duas pistas de propriedade da família, um em Colinas e outra no Bairro Carneiros. Quando em viagem para as provas são ao menos cinco pessoas envolvidas, entre eles os pais. “Somos uma equipe”, garante a mãe Delaine Lopes, orgulhosa. O “box” da equipe Lopes fica na oficina e loja da família, em Lajeado. As premiações de Enzo tomam as paredes do local. Ele já perdeu a conta das provas disputadas, troféus e medalhas conquistadas. “Hoje as premiações de corrida dou para amigos, fãs, patrocinadores. Só guardo mesmo os troféus finais de campeonatos”, explica. Mas não se dá por satisfeito e quer mais. “Quero ser o melhor piloto de motocross do mundo. Falta bastante degrau ainda, mas estou dando meus passos para chegar a isso.”
Mas tal meta exige muito empenho, dedicação. Em meio às curvas e saltos, há outros obstáculos para a vida de estudante, de jovem. A rotina de escola comum teve que abandonar. Hoje cursa ensino à distância. “Não é um problema, e sim uma saída que muitos precisam tomar.” Cuidados com a saúde são intensos, afinal, é um atleta de alto rendimento. “Tenho o chamado dia do lixo, quando faço e como algumas coisas que não posso em outros dias, como pizza. Adoro”, brinca ele.
Quando Enzo desliga a moto e tira o capacete, volta a ser um jovem com as mesmas vontades de qualquer outro da sua idade: fica ligado ao celular; dá risada com as piadas que recebe via aplicativos e redes sociais; gosta de ver TV e se divertir com os amigos, isso quando as viagens permitem. “Sinto um pouco de falta sim, mas sei que para o sucesso, para um meu futuro, vale a pena eu perder uma ou outra festa hoje. Trabalho para isso. Se fosse por algo que eu não gosto iria me arrepender. Mas não é o caso”, atesta, com postura de campeão.
Popularidade
Para o piloto, assim como muitos outros esportes no Brasil que não o futebol, ao motocross falta maior apoio das autoridades e federações para que seja mais popular. “Sei que ter uma moto e um capacete não é tão fácil quanto uma chuteira e uma bola, mas poderiam ajudar mais sim.” Por anos sua participação nas provas só foi possível graças aos investimentos da família, que já se desfez de coisas próprias para investir na carreira do filho. Hoje conta com a ajuda de 12 patrocinadores. O piloto vê o surf como exemplo. “Bastou o Medina ficar famoso mundialmente para o surf começar a ter reportagens, passar na TV aqui, ficar bem mais popular”, diz. “Quero fazer o mesmo com o motocross, por isso corro para ser o melhor”.
Escolhas e caminhos certos
Enzo reconhece que a figura do pai, o ex-piloto Léo Lopes, exemplo e incentivador, teve peso na escolha dos caminhos tomados. Apesar de também fã de Airton Senna, foram sim os troféus, as fotos, relatos e vídeos do seu herói em família que o incentivaram a seguir também o caminho das pistas. Na terra do futebol o amor pela bola até não foi esquecido. Aos oito anos Enzo deu um tempo às pistas. “Estacionou” sua moto um pouco e as chuteiras saíram do armário. Contudo, a situação não durou muito tempo. “Eu era uma criança, não sabia direito o que queria. Mas logo senti falta da moto, vi que queria as corridas, pois eu gostava de algo diferente. E o futebol era muito comum. O motocross não”, justifica. Se os gramados perderam um possível craque, as pistas ganharam um talento.

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