09/08/2017

Amigos de quadra, da vida

Há mais de duas décadas, uma turma de amigos se reúne sempre no mesmo dia da semana para jogar tênis

Amigos de quadra, da vida
“É quarta-feira, é dia da turma”
Há mais de duas décadas, uma turma de amigos se reúne sempre no mesmo dia da semana para jogar tênis, manter a saúde e as amizades e ainda saborear uma boa comida e se solidifica como o grupo mais antigo das raquetes do Vale do Taquari
Para muitos, sexta-feira; para outros, domingo, mas para uma turma de amigos de Lajeado, a mais de duas décadas são elas, as quartas-feiras, que têm um valor especial, pois são repletas de saudáveis e gostosos significados: esporte, amizade, saúde, diversão, boa comida e muita alegria. É nesse dia, em meio à agitada rotina de diversos profissionais e pais de famílias, que a Turma das Quartas se reúne para, entre outras coisas, jogar tênis. E também dar risadas, fazer uma piada com a dupla do outro lado da quadra ou, mesmo raramente, ficar brabo com o parceiro pela bola fácil deixada na rede. Quando Renato Arenhart (52), o “Puli”; César Bublitz (51); João Cláudio Ferreira da Silva (72); e Décio Marobin (68), o “Maroba”, passaram a jogar tênis juntos, todas as quartas-feiras, no Clube Tiro e Caça (CTC) de Lajeado, não podiam imaginar que, 23 anos depois, eles seguiriam juntos. Estava fundada a Turma das Quartas, que, ao longo das temporadas, recebeu o reforço de outros amigos e cresceu em tamanho e em tradição. Hoje, na companhia de outros 13 tenistas, formam uma turma de amigos cercada de regras, histórias, brincadeiras e muita lealdade. Entre os integrantes, alguns casos em que a tradição já passa de pai e filho. Já são dois os casos assim: Ilgo Kuhn, o “Russo”, e Guilherme; também João Cláudio Ferreira da Silva e, ocasionalmente, Diego Ferreira da Silva, o “Mala”.
No grupo, são advogados, empresários e aposentados, entre outros. João Cláudio Ferreira da Silva é o mais experiente do grupo, com 72 anos; Márcio Klein, o mais novo, com 44.
Segundo os participantes da Turma das Quartas, é justamente o variado mix de atividades dos integrantes, como também a diversificada idade entre eles, que permite, sempre com muita educação, bom senso e clareza, um grande universo de visões e diversificado leque de opiniões sobre os mais diversos temas do cotidiano, que não deixam de ser recorrentes nos momentos de folga entre uma partida e outra, como também nos tradicionais jantares pós-jogos.
Bom humor
Os encontros às quartas-feiras começam a partir das 18h. Os duelos são sempre em duplas, nas duas quadras cobertas do clube. E essas duplas se originam de sorteios, para evitar as conhecidas “panelas”. César Bublitz justifica: “Isso não permite que um jogador um pouco pior faça sempre dupla com outro jogador que não é tão bom assim também, ou que...”. Não dá nem tempo de ele terminar de explicar o contexto para que gritos de “ípsilon é o pior”; “xis que é”; “eu sou o melhor”, “só se for o melhor para...” tomem conta do cenário. Cessadas as brincadeiras, risadas e demais provocações, Bublitz termina: “Brincadeiras à parte, o rodízio é uma forma democrática de todos jogarem com todos, e isso também permite um maior equilíbrio e eterna integração. Mas festivais e torneios também são organizados para que o lado um pouco mais competitivo, mas não menos respeitoso, apareça”. No que o assunto competição vem à tona, recomeçam as sadias provocações: “O campeão aqui sou eu”; “só se for campeão de...”. Mas todos ressaltam: o mais importante é jogar por prazer e sempre entre amigos, nunca adversários.
O bom humor é, de fato, algo comum na turma. Difícil ver alguém irritado por um lance ou bola que ficou em dúvida. “É proibido mentir”, destaca Puli. Mas João Cláudio Ferreira da Silva corrige. “Vamos reconhecer. A gente até tem que mentir às vezes e dizer que as bolas do Marobin foram dentro, pois ele tem um pouco de problema de enxergar as linhas da quadra dele”, provoca, para mais risadas da turma.
E a Turma das Quartas seria a mais antiga ligada ao tênis no Vale do Taquari - para alguns até do Estado - a reunir-se ininterruptamente, realizando, também, intercâmbios com outros grupos parceiros similares. “Ressalta aí, ‘antiga’, mas não velha”, brinca um deles, para logo ser interrompido: “Vai parar de falar e vir jogar comigo ou não?”.
O “patrocinador” da quarta
As quartas da turma não se encerram com saques e voleios, e, sim, somente após o jantar, que ocorre depois da série de jogos. E este é sempre “patrocinado” por um dos integrantes da turma. “Trata-se de um rodízio. Naquela noite, o integrante da vez é o responsável pelo jantar, como também de pagá-lo, assim como a bebida, a luz das quadras e, ao menos, um par de bolas de tênis novas. Isso dá, no máximo, três vezes por ano, mas ele é muito bem recompensado em muitas outras quartas-feiras do ano”, explica Puli. “O patrocinador pode até jogar, mas será ele o responsável por tudo que envolve o jantar. Escolhe o que quer cozinhar, se quer ele mesmo fazer o prato ou pedir para que alguém faça por ele. Também pode convidar um amigo ou visitante para vir junto. O importante é não falhar e ter comida para todos”, completa.
Pescoçada
As galinhadas são os pratos mais recorrentes. Contudo, status de inesquecível ganhou a “pescoçada”, prato preparado por Marcelo Munhoz, também integrante da turma, que assim ficou famosa justamente por ter falhado na sua tentativa de ser uma galinhada. “Tinha só alguns pescoços de galinha e poucas xícaras de arroz”, diz Ângelo Arruda ao explicar por que este prato virou lenda entre os amigos, para risadas gerais.
Nos primórdios, realizavam-se as Comendas do Tênis, com dois tenistas da turma como comendadores, e a participação de, no máximo, 60 convidados, tendo por local o antigo salão de festas do CTC. Essas comendas deixaram de ser realizadas quando todos os integrantes tiveram a oportunidade de serem comendadores ao menos uma vez. Hoje, apesar de os jantares das quartas-feiras serem mais restritos ao grupo, há outros momentos de integração ao longo do ano, então estendidos a amigos e familiares, como os encontros que ocorrem ao final de cada temporada e no verão, no litoral.
Integrantes da turma: Ângelo Arruda, “Lito” (empresário, 54 anos); César Bublitz (empresário/advogado, 51); Décio Marobin (perito judicial, 68); Elvidio Siqueira (aposentado, 67); Ilgo Kuhn, “Russo” (representante comercial, 71); Ivan Martins Pereira (empresário); Ivo Frey (empresário, 59); João Cláudio Ferreira da Silva (aposentado, 72); Leandro Berwing, “Neco” (empresário, 50); Luís Carlos Jacobs, “Pito” (empresário, 54); Marcelo Scherer (gerente comercial, 49); Marcelo Munhoz (corretor de imóveis, 57); Márcio Klein, “Tito” (coaching, 44); Odilo Braga (aposentado, 70); Paulo Antoniazzi (empresário, 57); Pérsio Nicaretta, “Peco” (arquiteto/urbanista, 49); e Renato Arenhart, “Puli” (empresário, 51). Também fizeram parte do grupo, ao longo dos 23 anos, entre outros, Alexandre Fontana; Ítalo Reali; Rogério Balbinot; Paulo Castro; Hugo Spohr, “Duda” (in memoriam).

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