09/08/2017

Vandeco Pinna

Ídolo dos gramados do interior na década de 1990, ainda saudado por suas atuações, nos gramados do Vale

Vandeco Pinna
Um dia pés; hoje, mãos protagonistas
Ídolo dos gramados do interior na década de 1990, ainda saudado por suas atuações, o hoje projetista de móveis relembra com saudosismo do futebol jogado na sua época
Ele projeta móveis, realiza sonhos. Já projetou jogadas, fez gols e embalou sonhos, assim como a alegria de muitos torcedores gaúchos, em especial os do Lajeadense. Integrante de algumas das principais equipes da história do Alviazul, Vandoir Bastos Pinna, ou apenas “Vandeco”, hoje aos 47 anos, trabalha há três na Bom Preço - Móveis & Decoração. Quem seguiu sua carreira e, agora, entra na loja no Bairro Montanha, em Lajeado, se surpreende que sejam os pés, protagonistas um dia - e não as mãos que hoje desenham móveis -, os coadjuvantes da história atual.
Natural de Dom Pedrito (28/4/1969), Vandeco chegou a Lajeado em 1991, aos 21 anos, para fazer testes no Alviazul. Pouco tempo depois já estava em campo, titular, e, com o clube, conquistou a 4ª colocação no Gauchão de 1991, até então o melhor resultado do clube no Estadual em sua história, em temporada com amistoso até com a Seleção Brasileira. Depois de quatro anos no Florestal, passou por Caxias, Joinville, Brasil-Pel, onde foi campeão da Copa RS pela primeira vez. Voltou ao estádio lajeadense para uma passagem mais breve, mas depois, ainda, seguiu pelo São José. Jogou, também, no Guarani-VA, onde foi campeão da Série B Estadual e da Copinha, sob o comando de Mano Menezes, e então, no Passo Fundo. Em 1998, voltou ao Estádio do Florestal, onde conquistou a Copa RS (Abílio dos Reis) mais uma vez - tricampeonato pessoal. E no Alviazul encerrou a carreira, nos gramados profissionais. “Sinto saudades”, diz.
A transição
Após pendurar as chuteiras profissionais, por oito anos, Vandeco trabalhou na área de marketing de uma rede de informática. A facilidade de lidar com microfones, graças às muitas entrevistas em campo, ajudaram a lhe garantir o emprego. O ex-jogador reconhece que o atual destino pós-gramado não foi o inicialmente planejado. “A gente faz planos, mas é Deus que nos guia. Quis seguir com o futebol, projetei, sim, ser treinador, fiz cursos para isso, mas as portas se fecharam. Ressalta que, para quem passou dez anos viajando com os times e oito anos dando palestra com a loja de informática, também em muitos lugares, ficar o dia todo dentro de uma sala foi algo difícil para se adaptar. “Mas hoje estou. A gente vê que quando se larga o futebol, poucos estão preparados para o depois, e comigo não foi diferente, mas fui me adaptando. Me formei, me especializei na projeção de móveis, fiz muitos cursos diretos nas fábricas, principalmente da Serra Gaúcha, e, hoje, estou muito feliz aqui na loja tocada por Rafael Zagonel e Luciana Conceição”, destaca ele, também vendedor.
O ex-jogador ainda vê os gramados muito de perto, principalmente por causa de dois dos seus cinco filhos, os quais jogam bola profissionalmente: Rafinha, no Real Rieti, na Itália, e Lucas, que estava na Chapecoense, e, agora, na procura de um clube. Ainda assim não esconde o saudosismo do velho Florestal. “Morei embaixo daquelas arquibancadas por dois anos. Na minha época, a torcida vinha a pé ao estádio. Quem vinha de carro eram os de fora. Hoje, todos precisam de condução para ir torcer. E vão pouco, porque também têm representantes em campo. Uma região muita rica de bons jogadores para que se torne um time barato. Hoje, num plantel de 25, só cinco, seis em média são daqui. Na minha época era diferente.”
Amador, exemplos, ídolos...
Vandeco, após pendurar as chuteiras “profissionais”, seguiu ainda por muitas temporadas em diversos campos do futebol amador. “Joguei em muitos times, fui campeão municipal e regional muitas vezes. Muito bom”, destaca o ex-atleta, também de muitas jornadas no interno do Clube Tiro e Caça. Em relação aos gramados amadores, os vê com muita deficiência técnica. “Pela falta de organização e também por culpa dos jogadores. Na minha época, mesmo no amador, eu não ia a festas na noite anterior aos jogos, pois sabia que precisava descansar para as partidas, até porque, se não me apresentasse bem seria cobrado por isso. O meu último amador joguei com 46 anos. Mas isso porque treino três vezes por semana, não bebo, não fumo, me cuido. E hoje não é bem assim. Os jogadores vão para a noite e, no dia seguinte, com 45 minutos em campo já estão com sentindo cãibras. É a falta de comprometimento que está matando o amador”, alerta.
Ele que em campo se espelhou em Adílio, ex-meia-direita do Flamengo, teve também nas casamatas outro exemplo: Mano Menezes. “Eu morava aqui no São Cristóvão, estava sem clube. Então, bateram à porta da minha casa. Era ele, dizendo que estava começado a montar o time. Foi engraçado, pois o Mano, então ainda desconhecido, entrou na minha sala e disse: ‘Estou montando um time para ser campeão e quero começar por ti’”, relembra. “Aquilo foi muito gratificante, inesquecível, também por ver quem se tornou Mano Menezes”, destaca Vandeco.
Desabafo: “Mais fácil”
Numa comparação do futebol de hoje com o da sua época, é taxativo. “Mais fácil”, avalia. “São melhores as condições. Na minha época, jogávamos em um campo que às vezes não tinha grama. Nosso vestiário era precário comparado ao de hoje. Nossas roupas, treinávamos de manhã, era lavada para usar de tarde; alimentação precária. Morei dois anos na concentração com instalações, alimentação bem mais precária que atualmente, mas enfrentamos isso tudo, e, talvez por isso, os jogadores tinham mais garra, determinação”, reitera. “Para se jogar, naquela época, numa dupla Gre-Nal, você tinha que ser muito bom, e não ter um bom empresário. E quando eles vinham jogar aqui na nossa casa, a gente fazia frente, pois tínhamos muita garra, vontade de vencer.
Quando fui campeão aqui no Lajeadense, a gente estava com três meses de salário atrasado. Nem por isso mostrava-se menos determinação em campo”, relembra. “A gente sabia que tínhamos que jogar para vencer também por nós. Hoje não é assim. Tenho buraco nas minhas pernas, pois jogávamos com estiramento. Jogávamos terça, quinta e domingo. Caso se machucasse no primeiro jogo, tinha que se curar até quinta. Tinha apenas o finado seu Silveira fazendo toalhas quentes e depois íamos para o jogo, porque eram grupos pequenos, não tinha muitos atletas, e ainda assim tu não querias perder a posição, a partida. Ganhávamos uma chuteira para o treino, mas era a mesma do jogo. Hoje, ganham tênis para corrida, chuteira para treino, outra para jogo. Os jogadores atuam em gramados ótimos, equipes médicas à disposição, têm excelentes condições de trabalho mesmo no interior e, ainda assim, muitas vezes ficam até 30 dias parados, e isso recebendo em dia.
Fonte texto: Rodrigo Angeli

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site.